O infiel «jardineiro»
Deveria ter sido simples, mas não foi.
- Não há volta a dar, disse ele.
Podia escrever que a seguir encolheu os ombros, mas nem isso. Dizer uma frase destas sem mexer um músculo com excepção dos faciais é, sei-o bem, a resignação absoluta ao desiderato da vida.
(Aqui, entra aquele chavão dos segundos que pareceram intermináveis, mas é que pareceram mesmo).
- Talvez…
Ia jurar que a voz dele subiu uma oitava, só não juro porque nada entendo de música.
- Talvez…, respondi-lhe pegando na deixa.
- Talvez a peça não seja esta, murmurou.
Murmurou, mas depois repetiu tão alto que me assustou o gato, octogenário em anos humanos. Estava ofuscado pela própria sugestão e todas as suas implicações, primárias e secundárias.
- Pode ser, afirmei eu.
Afirmei mas não devia ter afirmado. Resvalei para terreno proibido. Saí de pé, poderei mesmo dizer.
- Diz isso porquê? Percebe alguma coisa disto? Sabe há quantos anos reparo máquinas destas? Faz ideia?!
Aqui a voz subiu duas oitavas, acho eu.
- Ouça, disse por dizer. O senhor Abílio é que sabe da poda.
- Da poda? Eu não sei nada de poda. Não sou jardineiro. Mas disto percebo. Disto percebo eu desde que nasci.
- Ainda bem, ainda bem que percebe. E o problema é da peça ou não?
- Olhe, quer um jardim? Eu dou-lhe um jardim. Imagine que tem uma roseira há vinte anos. E que há dez não lhe nascem rosas. Pode pôr adubo, pode mudar a terra. Mas a roseira morreu, entende? Morreu!
Aqui a voz subiu-lhe (suponho) três oitavas e o gato fugiu.
- Então e a peça?
- Não há volta a dar, repetiu ele.
Desta vez, encolheu os ombros. Mas já estava de saída.
- Não há volta a dar, disse ele.
Podia escrever que a seguir encolheu os ombros, mas nem isso. Dizer uma frase destas sem mexer um músculo com excepção dos faciais é, sei-o bem, a resignação absoluta ao desiderato da vida.
(Aqui, entra aquele chavão dos segundos que pareceram intermináveis, mas é que pareceram mesmo).
- Talvez…
Ia jurar que a voz dele subiu uma oitava, só não juro porque nada entendo de música.
- Talvez…, respondi-lhe pegando na deixa.
- Talvez a peça não seja esta, murmurou.
Murmurou, mas depois repetiu tão alto que me assustou o gato, octogenário em anos humanos. Estava ofuscado pela própria sugestão e todas as suas implicações, primárias e secundárias.
- Pode ser, afirmei eu.
Afirmei mas não devia ter afirmado. Resvalei para terreno proibido. Saí de pé, poderei mesmo dizer.
- Diz isso porquê? Percebe alguma coisa disto? Sabe há quantos anos reparo máquinas destas? Faz ideia?!
Aqui a voz subiu duas oitavas, acho eu.
- Ouça, disse por dizer. O senhor Abílio é que sabe da poda.
- Da poda? Eu não sei nada de poda. Não sou jardineiro. Mas disto percebo. Disto percebo eu desde que nasci.
- Ainda bem, ainda bem que percebe. E o problema é da peça ou não?
- Olhe, quer um jardim? Eu dou-lhe um jardim. Imagine que tem uma roseira há vinte anos. E que há dez não lhe nascem rosas. Pode pôr adubo, pode mudar a terra. Mas a roseira morreu, entende? Morreu!
Aqui a voz subiu-lhe (suponho) três oitavas e o gato fugiu.
- Então e a peça?
- Não há volta a dar, repetiu ele.
Desta vez, encolheu os ombros. Mas já estava de saída.
Ele há peças que nos dão mesmo a volta à cabeça!! O melhor é afastá-las das rosas. Conselho de amiga!!!
Finalmente de volta! Gostei imenso. Às vezes não há mesmo volta a dar, por mais que se faça. Frustração, resignação. Aceitação por fim. E, a partir daí, seguir em frente.
Bolas,
que radical
ñ é da peça não senhor, podes crer
é do "fel"
de certo existe solução