17.6.06

semanário

esta semana comecei um poema que fala de chuva e despedidas
chávenas de chá e borras de café, olhares quentes e polícias
e girassóis e livros e comboios e telefonemas com três palavras
e versos e poemas e músicas e abraços e insistências várias.
esta semana comprei uma máquina de fazer olhares sensuais
e despi o meu casaco de senhor doutor para te dar as boas noites
e peguei num boné que era do meu avô e gritei golo algumas vezes
e fui ver o sol nascer no mar do lado de lá do lado de lá de mim.
esta semana encontrei-te na rua e disse-te adeus em duas ocasiões
dancei desajeitado no corredor da minha casa desarrumada
lavei os dentes catorze vezes e tomei banho outras sete
dormi sempre pouco e sempre mal com calor e dores de garganta.
esta semana pensei que podíamos ficar apaixonados para sempre
a música que eu ouvi na rádio poderia repetir em continuidade
os dicionários podiam ser peças de armários onde nos encontrassemos
as férias são uma estrada comprida com curvas e garrafas de água.
esta semana fui às compras e trouxe, em sacos de plástico, requeijão
pão fresco manteiga chourição guardanapos fígado de porco
patê cervejas arroz doce salame salsichas alfaces iogurtes
papel higiénico bolos secos e uma revista de palavras cruzadas.
esta semana a minha mãe não me falou e a minha avó faz anos
todos os jornais trazem na capa jogadores de futebol e bandeirinhas
um pneu do meu carro estava vazio e eu enchi-o antes de ir ver-te
não me acabou a gasolina a meio do caminho e fiquei contente.
esta semana tu foste embora para dentro de um livro que eu escrevi
e os meus versos longos ficaram cheios de pedacinhos de ti
eu sorrio ao ver crescer os meus filhos que ainda não nasceram
e entretenho-me a ver desenhos animados e a mudar de calendário.