23.2.06

Açúcar

Escolhemos uma mesa junto à janela onde pousaram velas pequenas, o que nos iluminava as lentes dos óculos em contraste com a sombria amálgama de cabeças que estava pelo bar. Também as nossas vozes, a minha e a tua, destoavam - e por isso tivemos que, várias vezes, repetir as frases que, ora um ora outro, não percebíamos. Pedimos chá, eu preto, sempre o primeiro que me vem à cabeça, tu de laranja, depois do rapaz que nos atendia ter declamado uma longa lista que parecia interminável. Laranja, o último deles todos. A conversa desenrolou-se como os ponteiros de um relógio assimétrico, com as ideias a levantarem-se qual poeira, com os olhares a trocarem-se mutuamente. Os nossos dedos, pela noite desocupadamente esticados, brincavam com os restos de pacotes de açúcar - eu fazia uma pequena almofada com o meu, embrulhado em ambas as pontas, com um ligeiro declive para pousar uma cabeça de boneco, tu inventaste um perú das cores do pacotinho, com uma cabeça curta mas que juravas estar de lado, as asas fechadas sobre o corpo tenro. Sorrimos, sim, sorrimos muito.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei muito. Mais uma razão para visitar estes prazeres.

3:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Um pequeno prazer muito bem vivido. Gostei bastante.

5:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

:)
Stela

7:15 da tarde  

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