Cão como ele
Jorge tinha um cão do qual não gostava. O cão, no entanto, seguia-o para todo o lado porque é isso que os cães fazem. Além disso, o cão dedicava-lhe um amor não correspondido.
Um dia decidiu livrar-se do cão de um forma definitiva, mas sem o prejudicar ou ferir. Enfiou-o no carro e guiou cento e cinquenta quilómetros, até uma aldeia que antes visitara e cujas gentes lhe pareceram acolhedoras e hospitaleiras. Parou ao crepúsculo numa bomba de gasolina, atou o cão a um poste de iluminação e reeentrou no carro, arrancando a toda a velocidade.
Duas semanas passaram. Era noite quando ouviu raspar com violência na porta da entrada. Abriu-a cautelosamente e viu o cão. O animal entrou sem abanar a cauda, deu uma volta à sala, subiu as escadas, voltou a descê-las, olhou para aquele que fora o seu dono fixamente e saiu. Nunca mais se reencontraram.
Um dia decidiu livrar-se do cão de um forma definitiva, mas sem o prejudicar ou ferir. Enfiou-o no carro e guiou cento e cinquenta quilómetros, até uma aldeia que antes visitara e cujas gentes lhe pareceram acolhedoras e hospitaleiras. Parou ao crepúsculo numa bomba de gasolina, atou o cão a um poste de iluminação e reeentrou no carro, arrancando a toda a velocidade.
Duas semanas passaram. Era noite quando ouviu raspar com violência na porta da entrada. Abriu-a cautelosamente e viu o cão. O animal entrou sem abanar a cauda, deu uma volta à sala, subiu as escadas, voltou a descê-las, olhou para aquele que fora o seu dono fixamente e saiu. Nunca mais se reencontraram.
Porque tinha ele um cão, para começar?
Excelente pergunta! Tinha-o herdado da sua tia avó ceguinha, entretanto falecida por bater com a cabeça, de forma particularmente violenta, no canto acimentado de uma marquise ilegal que se projectava para o passeio.
Com os remorsos, os responsáveis de fiscalização da Câmara cometeram hara-kiri numa tentativa de lavar a honra das famílias e a indemnização, conseguida anos mais tarde dada a morosidade judicial, permitiu a Jorge esquecer o seu acto imoral de abandono do fiel amigo nos casinos de Monte Carlo.
Um dia, o castigo chegou soba forma de um enfarte sobre a mesa da roleta. A bola parou no 13, é evidente.
Que tal como resposta? :)
Muito mais complicada do que eu imaginava. Vi ali a metáfora de uma relação, por isso imaginei uma motivação bestialista.
(era o que querias não era, que a Cãmara te pagasse a mocada na cabeça... não estamos na américa...)
Os cães têm a sua dignidade!
Stela
Meu Caro L. Rodrigues: talvez não devamos ir tão longe como a acusação de bestialidade implicaria! Pode tratar-se de uma simples viciação em "bondage", com uma sabotadora falta de material. Daí o amarrar o bicho ao poste.
Mas há uma versão popular do caso -a de o final vingador se dever à vontade de Quem escreveu esconder a inspiração na perene figura do Rantanplan, do Lucky Luke...
ha,ha,ha... boa malha, Paulo!
;)
Para mim, este texto vai muito além da sua aparente simplicidade. A traição, o egoísmo, o abandono são problemas que existem e acontecem a cada instante. O que pode desenadear? Solidão, remorsos. Vazio. Dá que pensar, não?
Voltando à história propriamente dita, quem tem a coragem para abandonar um cão, não pode ser boa pessoa. Prisão com ela!! Haja justiça!! Gostei imenso do texto.
Outra coisa: Não me parece que este cão seja como ele. São ambos uns grandes cães, mas por razões diferentes!!
Ihihihihi!! Já li isto em qualquer lado!!!
Quer dizer, livro!!
:) Cão como Nós - Manuel Alegre.
Eu tenho um cão e ando sempre a embirrar com ele. :) Mas adoro-o. Adoro chama-lo "rafeirinho" com a voz mais ternurenta do mundo :)
E porque os caes merecem o nosso carinho e a nossa atenção. Nao são só caes. Sao os nossos amigos. E nao lhes devemos dar a chamada "vida de cão" que tanto dizemos que temos. :)
Gostei Muito **
Estrela, acertaste na "mouche", são problemas de solidão, abandono e egoísmo...
e como se passam connosco, os que criticamos e q + vezes do q desejamos..tb abandonamos..
qtas pessoas abandonamos..
Gostei muito do texto
a mim entristeceu-me o texto.Gostei de o ler.Como metáfora ou como ralidade acontecida.