12.12.06

setenta e três

esta noite vou fazer um poema de silêncio
tão tentado que estou a dizer-te azul da cor da minha pele
marcada pelos pensos rápidos com que estancaste
as feridas que trouxe na hora de chegar a casa
depois do trabalho

um poema de silêncio em que se diga
que foram setenta e três dias o meu plano de trabalhos
delineado por generais em salas escuras de quartéis só luz por fora
setenta e três dias onde me julgaste condenado e morto
desaparecido para sempre como
todos aqueles que ficaram vivos apenas no silêncio
deste poema que não fiz mas todas as mulheres e os seus filhos
todas as mães e avós com os seus netos, quietas pelos cantos das casas
onde a mágoa e a dor eram apenas uma maneira actualizada
de compor os quadros nas paredes
onde tudo o que se escrevia ou fazia eram poemas de silêncio
que de tão fortes estavam capazes de calar a gritaria o choro e a dor
dos que nas paredes do lado sentiam a corrente eléctrica a percorrer o corpo
e as matracas dos generais planeadores de trabalho nas articulações
marcas que pensos rápidos não tapam
mas que tentaste, sim, tentaste e prometeste-me que sim.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

e que haja cada vez mais poemas de silêncio que digam e que não deixem esquecer!
obrigada

11:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

memorável...

11:45 da tarde  

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