Antes de quê?
E quando começou a escrever sabia o que pretendia. Que se prolongasse assim o calor e a estática electricidade das mãos para sempre, para sempre fosse como antes fora. E aí parou. A força da palavra fê-la deter-se. Entrou nela feita pássaro indesejado, cego, trémulo, pela janela aberta sobre a noite que entretanto se fizera. Antes de quê? E logo a resposta: Antes deste depois que é o agora, morna memória na pele da passagem do Sol.
Reparem, eu não sou mulher. Marta sim e por isso nascida sem a noção de finitude, sem entender o sofrimento e o seu porquê que cresce entre as fissuras e escorre como areia na ampulheta que se vira jamais.
Ou seja, por que tudo acaba, ou diminui ou esvanece? Se um dia é perfeito, por que não o são todos os outros ou, mais ainda, não poderão ir crescendo crescendo e ela cada vez mais feliz em ascendente espiral de encontro a quem sempre quisera ser?
Dir-me-ão:
- Claro que não.
Ou que Marta é jovem e desconhece a vida, sem entenderem que é por ter vivido que anseia por viver, que a idade nada lhe ensinou nem ensina nada a alguém excepto a desistir de ser ou a olhar-se no espelho sem que, do outro lado, uma voz ordene:
- Despe o teu corpo e acorda.
- Olha esta luz, veste esta luz.
Sentir as portas que ninguém abre e por detrás delas quartos de um lado e do outro de um imenso labiríntico corredor, num hotel vazio abandonado e ela de chave na mão, descalços os pés na tapeçaria puída perguntando:
- Onde estão todos?
- Houve incêndio, sinal de alarme que não ouvi?
- Qual é o meu quarto? Onde moro?
E por que mora num hotel abandonado e não numa casa onde alguém ri e a chuva repica na varanda e a lareira aquece o corpo nu, exausto de tanto amar? Ninguém sabe. Eu não sei, tu não sabes. Marta sabe e, por isso, terminada a pausa que a palavra «antes» criou, recomeça. Não quer lembrar-se porque preferia sentir mas recorda e escreve. Aí, sim, é o início da sua história.
Reparem, eu não sou mulher. Marta sim e por isso nascida sem a noção de finitude, sem entender o sofrimento e o seu porquê que cresce entre as fissuras e escorre como areia na ampulheta que se vira jamais.
Ou seja, por que tudo acaba, ou diminui ou esvanece? Se um dia é perfeito, por que não o são todos os outros ou, mais ainda, não poderão ir crescendo crescendo e ela cada vez mais feliz em ascendente espiral de encontro a quem sempre quisera ser?
Dir-me-ão:
- Claro que não.
Ou que Marta é jovem e desconhece a vida, sem entenderem que é por ter vivido que anseia por viver, que a idade nada lhe ensinou nem ensina nada a alguém excepto a desistir de ser ou a olhar-se no espelho sem que, do outro lado, uma voz ordene:
- Despe o teu corpo e acorda.
- Olha esta luz, veste esta luz.
Sentir as portas que ninguém abre e por detrás delas quartos de um lado e do outro de um imenso labiríntico corredor, num hotel vazio abandonado e ela de chave na mão, descalços os pés na tapeçaria puída perguntando:
- Onde estão todos?
- Houve incêndio, sinal de alarme que não ouvi?
- Qual é o meu quarto? Onde moro?
E por que mora num hotel abandonado e não numa casa onde alguém ri e a chuva repica na varanda e a lareira aquece o corpo nu, exausto de tanto amar? Ninguém sabe. Eu não sei, tu não sabes. Marta sabe e, por isso, terminada a pausa que a palavra «antes» criou, recomeça. Não quer lembrar-se porque preferia sentir mas recorda e escreve. Aí, sim, é o início da sua história.
Será o inicio da sua história... ou o re-inicio da sua vida?
Que belo texto, João..
Obrigado Cristina :)