6.12.06

Natália no pão com marmelada e queijo

IV



Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
Adão depois do Paraíso
Errando mais nítido à distância
Onde te exalto porque demoras.


Natália C.






Paródia Natalícia


A arca de madeira da sala contou os passos arrepiados que subiram do fundo da escada até à ombreira da porta. Havia uma chuva pequena de tempo a bater a vidraça: o fim da guerra fez toda a gente sair à rua para dançar o medo
-soube de ti no fim da guerra, quando o teu corpo era menos um braço e menos dentes,
quando tu eras menos dedos na mão, menos cabelo e menos eu


eu não quis dançar e tu também não.

As pessoas não nos viram entrar em casa e continuaram, felizes e descalças, no átrio da igreja azul.

Em casa despi-te.
Tirei a camisa suja do teu corpo novo para me procurar nele. Imediatamente me chegou o cheiro da ausência da posição do sítio das coisas em ti:
os teus dois braços na minha cintura,

os teus cinco dedos da mão no meu ombro,
uma boca de lábios grossos a sorrir dentes.





Tapei a cara com as mãos para me lembrar de ti antes.
Acabei por fazer amor com a pele doce dos teus olhos.