25.11.06

O meu país - [dia de chuva]

todo este vazio no meio de tanta pressa
enquanto a chuva cai e nos tapa os olhos
e se ouvem gritos e sussurros de quem teme
não ter onde dormir já esta noite. vazio sim
apesar de tanta água a escorrer pelas ruas
e das pedras que agoram marcam as estradas
no caminho de casa que se vê ao longe
porque há um bombeiro que nos segura a mão
e nos impede o regresso onde nos amam.
todo este vazio no meio de tanta pressa
algumas palavras trocadas a medo pelas arcadas
os cabelos despenteados pelo vento que leva a gente
muito mais que aos chapéus-de-chuva destroçados
junto aos caixotes do lixo esverdeados da minha terra.
e onde moram ainda aqueles que já não têm cama
nem um colchão seco e limpo onde sonhar,
aqueles que vêm os livros e as roupas seguir rio abaixo
e se vão sentar às portas de casa quando finalmente
chegar sábado e um sol tímido depois do inverno.
todo este vazio no meio de tanta pressa
como homens velhos de gabardine sobre o alcatrão
e olhares tapados pela água barrenta vinda de nascentes
que agora espalham a tristeza entre os sedentos.
já não há espaço para a poesia neste imenso vazio
que é um rio cheio a levar pontes para o mar,
já não resiste nenhuma palavra nem uma mão
que nos ampare o suor dos pesadelos nocturnos.
resta-nos, não mais que isso, todo este vazio no meio de tanta chuva.

2 Comments:

Blogger mac said...

O que vale é que a culpa não vai morrer solteira: o culpado disto tudo é o aquecimento global. Políticas das autarquias, arquitectos e engenheiros, contratados sabe-se lá como, são meras vítimas...

6:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

de qq forma e + importante q procurar culpados

é preciso estender a mão..

.. esta.., a minha

Blota

6:31 da tarde  

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