Úlceras
Porque essencialmente se fala de uma mulher pequena de cabelo liso, a viver sozinha numa rua estreita com pouca gente que passa: uma mulher demasiado presa em si própria que procura casas de banho públicas de forma a sentir pessoas, a sentir outro corpo para além do seu que conhece, de sentir o cheiro de todos os corpos a tocarem-lhe a pele quente dentro das pernas.
Uma mulher de quarenta anos que corre cada casa de banho de metro da grande Lisboa com uma necessidade humana tão legítima como qualquer outra
- despe as cuecas, senta-se
de loja
de restaurante ou café
- despir-se, sentar-se e sentir
cada espaço cultural ou desportivo
- despir-se, sentar-se e sentir tudo o que os outros corpos lá deixaram: o cheiro a fazê-la feliz
a imaginar que vai trazer para casa nas pernas tudo aquilo que os antecessores sentiram
- o cheiro de cada um imaginado e desejado
na certeza de calar a solidão dos afectos com um acolher de pele
- sentem-se coisas entre as pernas que não se sentem em nenhuma outra parte do corpo
e o cheiro fétido, a sujidade, o nojo transparente dos restos de corpos alheios são coágulos que a fazem afastar-se do arvoredo à noite, o arvoredo que rente à estrada lhe tapa a luz da casa
- eu nunca seria feliz sem os outros.
Uma mulher de quarenta anos que corre cada casa de banho de metro da grande Lisboa com uma necessidade humana tão legítima como qualquer outra
- despe as cuecas, senta-se
de loja
de restaurante ou café
- despir-se, sentar-se e sentir
cada espaço cultural ou desportivo
- despir-se, sentar-se e sentir tudo o que os outros corpos lá deixaram: o cheiro a fazê-la feliz
a imaginar que vai trazer para casa nas pernas tudo aquilo que os antecessores sentiram
- o cheiro de cada um imaginado e desejado
na certeza de calar a solidão dos afectos com um acolher de pele
- sentem-se coisas entre as pernas que não se sentem em nenhuma outra parte do corpo
e o cheiro fétido, a sujidade, o nojo transparente dos restos de corpos alheios são coágulos que a fazem afastar-se do arvoredo à noite, o arvoredo que rente à estrada lhe tapa a luz da casa
- eu nunca seria feliz sem os outros.
zero comentários dirá muito, ou dirá apenas agosto? este meu comentário não diz muito,
só o eco de que eu gosto.
sem eco, Sr Mario :)