trinta anos
lembro-me de um tempo em que era possível ter trinta anos
e vestir camisa engomada todas as manhãs, mesmo no verão,
sem que nos acontecesse ficar suados ou tristes com a vida -
era qualquer coisa assim deste género que se via, ou vi eu,
num poema que começava de uma maneira muito ternurenta,
"encomendei os teus livros escolares na papelaria esta manhã".
lembro-me de um tempo em que era possível ter trinta dias
seguidos de férias e ninguém que nos chamasse pelo telefone
ou porque não éramos precisos para nada por ser agosto
ou porque nas casas da praia não havia telefones, ou havia,
mas só as namoradas de verão é que sabiam deles.
era esse o tempo de ter trinta anos e sem barriga de cerveja,
em que os bailes eram todos cheios de amigos e vinho bom,
em que as mães nos faziam o jantar e nos ofereciam dinheiro,
porque apesar de sermos trabalhadores e honestos,
éramos filhos, filhos até ao dia em que no casamento,
passávamos a ser filhos por fora, nas mãos de alguém pior.
lembro-me de um tempo em que era possível ter trinta anos
e lembro-me desse tempo nos filmes ou nos livros que leio,
não nas mãos onde me abraço porque é verão e tenho frio.
lembro-me de tudo isto ser possível ou então não me lembro,
fico só sentado no sofá da minha sala a olhar a televisão
e a imaginar coisas que sempre foram possíveis sem o serem,
porque uma boa verdade não ultrapassa nunca uma boa ficção.
e vestir camisa engomada todas as manhãs, mesmo no verão,
sem que nos acontecesse ficar suados ou tristes com a vida -
era qualquer coisa assim deste género que se via, ou vi eu,
num poema que começava de uma maneira muito ternurenta,
"encomendei os teus livros escolares na papelaria esta manhã".
lembro-me de um tempo em que era possível ter trinta dias
seguidos de férias e ninguém que nos chamasse pelo telefone
ou porque não éramos precisos para nada por ser agosto
ou porque nas casas da praia não havia telefones, ou havia,
mas só as namoradas de verão é que sabiam deles.
era esse o tempo de ter trinta anos e sem barriga de cerveja,
em que os bailes eram todos cheios de amigos e vinho bom,
em que as mães nos faziam o jantar e nos ofereciam dinheiro,
porque apesar de sermos trabalhadores e honestos,
éramos filhos, filhos até ao dia em que no casamento,
passávamos a ser filhos por fora, nas mãos de alguém pior.
lembro-me de um tempo em que era possível ter trinta anos
e lembro-me desse tempo nos filmes ou nos livros que leio,
não nas mãos onde me abraço porque é verão e tenho frio.
lembro-me de tudo isto ser possível ou então não me lembro,
fico só sentado no sofá da minha sala a olhar a televisão
e a imaginar coisas que sempre foram possíveis sem o serem,
porque uma boa verdade não ultrapassa nunca uma boa ficção.
Lembro-me do tempo em que não tinha 30 anos.
Em que não era possível chegar a casa, depois de trabalho, festa, passeio. Pelo simples facto que não a tinha.
Lembro-me de desejar ter paredes, tecto e vidro, muito vidro! Para ver tudo, quando e se quisesse. Na companhia de quem quisesse. Para poder ocupar as paredes com quadros, para usar o chão com pés de toda a gente que me é gente. Para olhar o tecto e sonhar com outras alturas maiores.
Lembro-me de não ter 30 anos e sonhar com a praia até horas indecentes, sem achar que o são. De querer ter o sol e a lua à minha frente e de lhes dar um significado meu; longe dos filmes de Domingo à tarde, ou livrinhos da moda.
Lembro-me de achar que nunca iria sentir falta do "a que horas vens jantar" ou do "vê lá se tens juízo". E lembro-me hoje, e em cada dia, de perguntar o mesmo e de me preocupar quando nao mo perguntam.
Lembro-me de querer ter alguém, e não poder chamar, porque não havia telemóveis.
Lembro-me de querer mostrar recortes da vida, ou sombras, ou luz, ou cores e não poder porque não havia emails ou mms.
Lembro-me dos amigos que já não são porque não foram regados com piadas, chain letters ou messenger.
Lembro-me de não ter 30 anos e olhar para vinhos, menus e charutos com a indiferença a que só a ignorância pode castigar.
Lembro-me de não ter sobrinho e não saber o que é o Toys'r'Us em vésperas de Natal. De não sentir que o meu é mais inteligente, o mais precoce, o mais giro, o mais rapazola. Muito mais em tudo que o tio.
Lembro-me de não ter 30 anos e de querer mandar os pais passear. E não poder porque não podia pagar as passagens.
Lembro-me de não ter 30 anos e pensar como seria quando os reunisse todos num mesmo ano.
Aos 70 espero lembrar-me dos 30. E gostar.
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