24.5.06

Enquanto escreve, a luz atrás das suas costas
e uma leve aragem brincam, muito juntas,
em espirais de poeira cintilante.

Enquanto a mão repousa, calejada,
um pequeno insecto atravessa palavras
ainda por reler.

Sem pressa nem receio, percorre a folha
e nada encontra entre as suas margens.

O homem ignora o pó atrás de si, o insecto à sua frente.

Ergue a cabeça,
ajeita os óculos com um tique na ponta do nariz e,
dir-se-ia,
por momentos permanece em outro qualquer lugar distante.
Como quem diz: «Não estou aqui. Não sou este».

Terminada a pausa, retoma a sua escrita.

4 Comments:

Blogger Paulo Cunha Porto said...

Meu Caro João:
A abstracção do perigo como via para a felicidade. A do bicharoco, que nem se perde nas complexidades do que o papel revelará, nem cuida da iminência de ser esmagado. A do escritor que imagina por um instante poder escapar ao cumprimento de si. Momentos breves, mas breve é a vida do insecto, enquanto que o Homem tem anos atrás de anos para sofrer.
Boa! Abraço.

9:40 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Até onde nos pode levar um insecto? Sabe-se lá! Gostei imenso.

10:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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1:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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8:24 da tarde  

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