Protège-moi
Hospital Psiquiátrico do Infulene, Lourenço Marques, 18 de Maio 1962
eu sou coisas dentro de mim que nunca disse: nunca os meus lábios se moveram para te dizer
para te dizer
- porque eu sempre te quis dizer
(olha para mim cá dentro que eu sou isto: olha para mim do avesso)
soubeste acenar-me e, poisando o jornal olhei para ti atentando que o teu riso não é mais o mesmo:
mascara-te a cara como se alguém em ti se risse por ti.
eu queria negar tudo, ia jurar a minha consistência nisto como uma mousse de manga a dormir quieta no protecção frigorífica:
ia agora mesmo começar a dizer que a tua pele se tornou áspera
áspera de velha, áspera de seca
e que te crescem silêncios venenosos pelos poros da cara, à maneira de morangos apanhados que temos de lavar antes de levar à boca.
Um dia prometo-te que levo-te à boca.
nas primeiras linhas percebi que era da inesita, tinha "o cunho do artista". muito bem.
a boca de peixe, sentado, à mesa.
razoavelmente bom... gostei.
Prof Mostafá (ou Tony Carreira, ou qualquer coisa do género):
os seus comentários tornaram-se uma fonte de inspiração :)
o peixe na boca, para sempre.