18.5.06

Protège-moi







Hospital Psiquiátrico do Infulene, Lourenço Marques, 18 de Maio 1962






eu sou coisas dentro de mim que nunca disse: nunca os meus lábios se moveram para te dizer
para te dizer
- porque eu sempre te quis dizer
(olha para mim cá dentro que eu sou isto: olha para mim do avesso)


soubeste acenar-me e, poisando o jornal olhei para ti atentando que o teu riso não é mais o mesmo:
mascara-te a cara como se alguém em ti se risse por ti.

eu queria negar tudo, ia jurar a minha consistência nisto como uma mousse de manga a dormir quieta no protecção frigorífica:
ia agora mesmo começar a dizer que a tua pele se tornou áspera
áspera de velha, áspera de seca

e que te crescem silêncios venenosos pelos poros da cara, à maneira de morangos apanhados que temos de lavar antes de levar à boca.


Um dia prometo-te que levo-te à boca.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

nas primeiras linhas percebi que era da inesita, tinha "o cunho do artista". muito bem.

12:07 da manhã  
Blogger Luis F. Cristóvão said...

a boca de peixe, sentado, à mesa.

10:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

razoavelmente bom... gostei.

11:28 da manhã  
Blogger Inês Leitão said...

Prof Mostafá (ou Tony Carreira, ou qualquer coisa do género):

os seus comentários tornaram-se uma fonte de inspiração :)

o peixe na boca, para sempre.

8:51 da tarde  

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