Vida nova
Esta é a história. Contada a partir de quando os dias, para ela, deixaram de ser um só Tempo de Passado, Presente e Futuro e começaram a surgir apenas um de cada vez. Este passo talvez seguido de outro, se tivesse cuidado e alguma sorte.
Quer isto dizer que ela nem sempre podia saber o que ia acontecer-lhe a seguir. Por vezes, acordava sabendo. Mas logo de seguida a memória da dor surgia entre os afazeres da manhã, no segundo de intervalo em que levava a chávena de chá aos lábios frios, ou noutro em que penteava as madeixas ainda molhadas.
Dava pois por si a viver imagens sonhadas logo ao pequeno almoço e, nessas imagens, ela era ela e também outra sem que tal distinção fizesse sentido. Ou antes, fazia todo o sentido ser mais do que uma, muitas e uma só em simultâneo. Agora fazia. Para si fazia. Porque ela deixara de ser como nós.
Um desses dias, em que já tinha acordado há muitas horas, um homem passou por ela e era idêntico a outro de um desses sonhos que se desvaneciam ou permaneciam, de acordo com os ritmos solares ou chuvosos do quotidiano, como escrevem os que não gostam de palavras bonitas. Era idêntico porque não era igual. Isto é, era e não era ele, o outro sonhado. Seja como tenha sido, esse homem olhou-a de uma forma acordada. Os olhos dele não subiram e desceram sequer o corpo dela, apenas se abriram, lançaram para dentro de si uma tristeza alegre - não há outra maneira para dizer isto ou se há não sei qual seja - uma tristeza vivida mas também de alguma forma se nunca esquecida pelo menos dominada, ou superada, por um brilho de alma nova, uma luz ganha com espada e esforço.
Foi então, nesse momento, em que ela desprevenida se deixou ver pelos olhos do homem que ao mesmo tempo era e não era o homem sonhado, que os dias deixaram de surgir para ela um de cada vez e passaram a ser o mesmo, sempre o mesmo dia, a mesma tarde antes do crepúsculo, o mesmo fato azul, embora os olhos que lhe sorriam fossem cor de avelã, ou mel, ou outra substância utilizada pelos poetas e os apaixonados. Um dia percorrido na procura desse homem que a olhara. Porque ela, quando isto aconteceu, sentiu mas não soube de imediato o que tinha acontecido. Por isso, virou a cara e atravessou a passadeira olhando apenas para os lados que lhe ensinaram em criança.
Só algum tempo depois parou e teve vontade de andar para trás. E andou mesmo, mas o homem não estava no lugar onde se tinham cruzado. E aí, começou a sua vida nova.
Dizem q a sorte bate a porta de cada pessoa, mas se a deixamos ir nunca mais a encontraremos. Assim falam q os sonhos e os amores fazem os mesmos encantos. Gostei do seu blog, seu estilo de esrita,. Boa semana.
Uma amiga me confessou:Disse-me ela
q ñ conseguia mais viver, queria morrer, estava intediada. Acabpu por dormir. Em seu snho viu o homem q seria o seu . Assim como vc relata com ela aconteceu, só q simpaticamente ela o esbarrou e tudo teve ali o inicio. Seu blog é muito bom, traição é forte, mas só há qdo se quer ter, pois todos falam sem nada dizer. Parabéns. Um ótimo dia.
Estou chegando
com a proposta de ser um ouvido
para os q não possuem com quem falar
e um ombro amigo para tentar consolar os aflitos.
Bastara entrar em contato.
Eternizamos este momento,
muito grato por dele participar,
pois nunca mais outro igual havera.
Também acredito que há sempre uma saída para que os sonhos se tornem realidade. Algures, alguém tornará isso possível. Só assim "o sonho comanda a vida". só assim vale a pena sonhar. Ou seja, só assim vale a pena viver!
ODE ao Homem com rosto
Também tu... Homem sem rosto
tantas vezes presente
deambulante da mente
parceiro de nostalgias
companheiro de mil sonhos
personagem de mil contos
tantas vezes procurado
tantas vezes encontrado
e outras tantas afastado
eras tu ... e não tu
eras tu ... em cada gesto delicado
em cada beijo alongado
em cada corpo enrolado
cada poema dedicado
eras tu ..., mas não tu
eras elipse de Pavlov
e eu procurando o círculo
neurose da perfeição ..
a equidistância dos pontos ...
... busca do príncipe perfeito/encantado
volteando em círculos
adicta a contos de fadas
recusando a elipse, a parábola, a hipérbole
a forma aproximada ...
recusando o polígono de mil lados
onde ... em tantas faces.. as arestas se diluem
o decágono, o octógono, o hexágono
todos primos do centágono, do milágono
familiares do circágono
... em tantas faces .. se esvão as arestas...
... e esse enfim, eras tu ... polígono
por vezes quase sem arestas
em que as rectas eram curvas
e as arestas bojudas
outras vezes agrestes, afiadas, agudas
ásperas, mal limadas, obtusas, contundentes, pontiagudas ...
Quantas vezes t’encontrei ...
Homem sem rosto
quantas vezes t’afastei ... homem com rosto
... de cada e todas as vezes estavas lá..
... quais formigas formando um todo ..
cada um de vós és tu
.. o Todo
e apenas ... a peça do imaginário ..
e eu ... Eu
parte da musa
a mãe, a amante, irmã, ...
etérea ninfa ou sereia,
fada...
fonte do amor inesgotável ...
muito e sempre desejada
e sim parte
da tão amada “ desconhecida “
Isha
Obrigado a todos pelos comentários e visita.
É agradável vir aqui respirar - é que a blogosfera nacional está cheia de artigos de opinião sobre a actualidade, o que quer que isso seja. Ainda que a ficção, à sua maneira, também possa ser uma "opinião sobre a actualidade", pelo menos, nela, o ar é mais claro.
A minha interpretação: a protagonista da História não deu por isso, mas adormeceu e foi um recorrente sonho com o mesmo objecto que ela teve. O Criminoso volta sempre ao local do crime. Como um comentador sem escrúpulos, qual misantropo, sempre a embaciar com observações catastróficas a beleza da rua prosa!
lindíssimo, jOão, lindíssimo. Até tenho medo de estragar com comentários
que bonito:)
zazie e lebre, muito obrigado a ambas pelos elogios que muito considero. O texto, no entanto, foi uma aventura pelos territórios da Clarice Lispector, pálida tentativa de imitar o que ela faz tão bem...este blogue é um bom campo para brincadeiras literárias :)
beijos
Obrigada pela visita, pelo link e pelas palavras – não somente as que ficaram no “Coincidência”, mas sobretudo as que são deixadas aqui. É que elas talvez sejam uma forma (das mais completas) de estarmos com (isto é, tentarmos) e de nos irmos sendo (por mais pessoana que se sinta a alma). Se não fosse tanto, ao menos por isso, valeria a pena ler estas “brincadeiras literárias”. Até breve.