(Longa) Mensagem de Amor
Então chegaste, ó ainda desconhecida! Nem tempo tive para estender sob os teus passos os mais luxuosos dos tapetes. Ou acender pelo caminho lâmpadas de óleo, queimando essências de que só os antigos conhecem o segredo, para que os seus aromas incendeiem ou apaziguem os nossos desejos e tornem vivos os sonhos que nos alimentam.
Tivesse eu sabido da tua chegada e todos aqueles por quem passasses entoariam o teu nome num cântico de alegria, igual ao do lavrador que semeia e saúda a chegada do Sol. E onde parasses, fontes jorrariam para ti. Não a água da qual homens e animais bebem, mas uma outra tão cristalina e pura como o mel que colho nos teus olhos, ou o néctar que os teus lábios oferecem como a mais sumarenta fruta. Velas arderiam de múltiplas cores obscurecendo o dia e nunca se consumindo, como não pode consumir-se o amor que transborda desta taça que é o meu coração, bombeando-me o sangue com a força de um nunca extinto vulcão.
No entanto, assim seja! Que chegues até mim com a veloz surpresa de um relâmpago, iluminando o Mundo que acreditava já tudo ter visto e nada de novo ser possível sobre a sua envelhecida terra. Iluminando-me a mim. A mim, cujos olhos se tornaram velhos antes do seu tempo observando as dores e o sofrimento, meu e de tantos, antes que a alma se recusasse a encarquilhar como um velho pergaminho sucessivamente escrito, erros sobre erros, palavras ocas sobre palavras ocas, impossível palimpsesto de frases que a vida e a morte se encarregam de apagar.
Chegaste e nada tinha para ti senão estas mãos que tremem quando se aproximam do teu calor. Chegaste e nasceram-me sorrisos por dentro que subiram pelo meu corpo com a agitação dos pássaros.
Em outras vidas te procurei. De candeia acesa, a pé, a cavalo ou no dorso de bestas que voando atravessam os maiores dos pesadelos, percorri sem medo os mil e um caminhos secretos da Terra. Nasci e renasci incontáveis vezes, tantas quantas a Lua se recorda de me ter visto, respirando a translúcida luz que me dava ao adormecer, coberto de estrelas e folhas de sábios carvalhos.
Procurei-te e desisti de encontrar-te. Amei outras e esqueci-as, ou elas me esqueceram por nada ter para dar-lhes excepto promessas vãs, que soavam aos seus ouvidos como ecos de uma gruta onde até os deuses têm receio de dormir. Promessas feitas a ti antes de te conhecer e depois repetidas como um mantra a cada hora de cada dia de cada ano de cada vida. Nascendo e envelhecendo e morrendo procurava-te, mas de ti só ouvia falar em histórias que outros escreviam e em canções que os enamorados tocavam de uma forma inimitável, para mim vedada.
Procurei-te e quando desisti de procurar-te surgiste enfim, ó portadora da Luz que não arde porque nada consome! Surgiste como surge uma perdiz ao alvorecer entre os passos do caminhante, e tão visível que um só relance da sua fuga entre as copas das árvores permanece na memória como uma infância.
É então verdade que aquele que procura não encontra jamais? Talvez seja. Não sei e já não me importa a resposta porque enfim surgiste. Não te ofereci ainda alguma flor, porque és vegetal como elas e como elas impossível de arrancar da mais bela das planícies, ou da mais inacessível das serras. Não te ofereci ainda nenhum dos meus tesouros, porque a riqueza deles se apagou como se apaga uma moeda nas mãos de um bêbado.
Recebo-te apenas. O mais pequeno toque, o mais furtivo olhar, o mais curto sorriso, alimenta-me como as tâmaras a um nómada, no mais árido e inclemente dos desertos.
Não te posso guardar ou encerrar, mesmo nas infinitas paredes do meu coração, mesmo no ilimitado leito da minha alma. Nada posso fazer para que sejas minha, nem esta possessiva palavra se escreve na junção tão aguardada dos nossos dois caminhos. Mas enquanto o quiseres e que sentirei como sendo para sempre, deixa-me ser para ti a água que bebes, o fogo que te aquece, a terra que te alimenta, o céu que te cobre, o ar que respiras. Peço-te muito, ó ainda desconhecida? Faço-o porque te conheço desde o início dos tempos, tu outra essência de mim, tu que deste em mim à luz estas linhas, que se aproximam do que queria dizer-te como as marés se aproximam da praia, para depois recuar.
Não te posso guardar ou encerrar, mesmo nas infinitas paredes do meu coração, mesmo no ilimitado leito da minha alma. Nada posso fazer para que sejas minha, nem esta possessiva palavra se escreve na junção tão aguardada dos nossos dois caminhos. Mas enquanto o quiseres e que sentirei como sendo para sempre, deixa-me ser para ti a água que bebes, o fogo que te aquece, a terra que te alimenta, o céu que te cobre, o ar que respiras. Peço-te muito, ó ainda desconhecida? Faço-o porque te conheço desde o início dos tempos, tu outra essência de mim, tu que deste em mim à luz estas linhas, que se aproximam do que queria dizer-te como as marés se aproximam da praia, para depois recuar.
O Amor Verdadeiro!Vale a pena acreditar. Se vale!!!
"I've travelled oceans of time to meet you".Dracula, Bram Stocker.
;)
Bom. Esplêndido o último parágrafo.
"(Linda) Mensagem de Amor"
obrigada por visitares lá o estaminé em linguagem de estrunfe!!
;)
Não sei porquê — isto acontece-me muito — lembrei-me, mal, de uma oração de São João da Cruz acerca da morte. Era mais ou menos assim, à falta de uma citação.
"Vem morte, mas silenciosa e discreta, para que a alegria de encontrar Deus não seja tal que me traga de volta à vida"