Excepção à regra
Muito excepcionalmente, este blogue terá textos que não de produção própria. Mas, porque estamos na transição para o novo ano, altura de promessas de mudança e, tantas vezes, de frustrada continuidade nos nossos erros, vícios e defeitos, não resisti a deixar aqui um auxiliar catalizador retirado de «O Livro Tibetano da Vida e da Morte».
Autobiografia em cinco capítulos
I
Caminho pela rua.
Há um profundo buraco no passeio
E caio lá dentro.
Estou perdido...não sei o que fazer.
A culpa não é minha,
Preciso de uma eternidade para descobrir a saída.
II
Caminho pela mesma rua.
E lá está um grande buraco no passeio.
Finjo que não o vejo.
Caio outra vez.
Custa-me a acreditar que esteja no mesmo lugar,
Mas a culpa não é minha.
Ainda preciso de muito tempo para sair.
III
Caminho pela mesma rua.
Há um profundo buraco no passeio.
Vejo que lá está.
Mas caio...Já é um hábito
Tenho os olhos abertos,
Sei onde estou
Mas a culpa é minha e saio imediatamente.
IV
Caminho pela mesma rua
Há um grande buraco no passeio,
E passo ao lado.
V
Caminho por outra rua.
Nyoshul Khenpo
Um veraneante passeava pelas montanhas da Escócia e encontra um "Highlander". Não um imortal tirado de um mediano flme de aventuras mas um velhote escocês cuja barba já tinha sido ruiva. Pergunta-lhe:
— "Excuse me sir, how can i get to Inverness from here?"
— "Nay.. You can't get to Inverness from here..."
ah sim... o meu próprio blog.. estou a pensar nissso...
O mais difícil é atravassar os buracos, enfrentá-los, arranjar um boa solução para os vencer. Fazer uma pontezinha ou qualquer coisa do género. Mudar o caminho pode não ser a solução. Não se pode esperar um terreno sempre plano. Adorei.
Esqueceste o título, Caríssimo:
«Um Grande Passeio no Buraco»
Mas compreendo que, na pior das hipóteses fosse pensado como denúncia da inactividade do departamento de obras do município; e na melhor como desabafo revelador da incapacidade de ir além do tactear, ou do errar...
Oh Luís, eu acho que talvez (e repara que digo talvez) se fosse escocês entendesse a piada. Ou se fosse um veraneante na Escócia. Sendo quem sou, é demasiado non sense até para mim :( It boggles my mind, so to speak.
Caro Paulo,
É, pelo contrário, um texto sobre a capacidade de aprender e resolver, ao longo do nosso Caminho, os "buracos" em que nos enfiamos...E para que saiba, o presidente da Câmara de Lisboa surpreendeu toda a gente ao colocar uma fotografia de Sua Santidade o Dalai Lama no seu escritório...
É curioso como esta piada, que já me acompanha há uns 20 anos desde que me foi contada por um escocês, tem dificuldade em despoletar risos nos outros. Talvez porque nunca consegui transmitir, da mesma forma que o contador original, o tom fatalista da resposta.
Mas imagina que estavas algures na Serra da Estrela e perguntavas a alguém como se ía dali para a Guarda. E alguém te respondia. "Daqui é impossível ir para a Guarda".
E nunca irias à Guarda, porque tinhas estado uma vez naquele sítio...(?)
(ajudei?)
Hmmmm....Não!
Decididamente, acho que a capacidade de rir dessa piada está na quantidade de whisky de malte que bebe antes de contar ou de ouvir essa anedota.
O engraçado é que o whisky de malte também funciona na Guarda, embora aí possa também utilizar-se aguardente de pera.
Há vinte anos bebias com'ó caraças, é o que é!
Gostava de saber desde quando sou nesta Casa tratado na terceira pessoa.
Posto isto, tenho grande simpatia pelo Dalai-Lama, embora tenha alguma dúvida sobre a lição que ele retiraria dessa versão do passador.
caro Paulo, mil desculpas! Queria escrever «que se saiba» e saltou-me o «se» :(