10.5.07

catarata

olho todos os meus sapatos alinhados junto à parede,
no corredor. que horas são, esta manhã, não sei dizer.
saído do banho, sinto o meu corpo lavado das coisas da noite:
sonhos maus, algum suor, algum frio, uns quantos espirros.

penso no quão triste pode ser a literatura quando é assim,
repetida, mastigada, programada. uso palavras que me arrepiam,
que me dizem pouco. estou deslocado no mesmo lugar onde sempre estive.
é esta a minha casa e escrever-te isto é como se te convidasse a entrar.

podes ficar aí, junto à porta. eu desço as escadas mecanicamente,
calado. o dia recomeça sempre da mesma forma, sabemos isso.


versão em prosa em: http://milnove79.blogspot.com/2007/05/catarata.html