31.1.07

Já não tenho idade para descobrir
uma luva esquecida no fundo da gaveta,
ou assistir ao desvanecer das begónias.
Vivi depressa, vivi demais
e todos os anos repetiram nomes diferentes,
entre os despojos largados, sempre iguais.

Mesmo assim, quando contar os meus dias
a quem pretenda ouvi-los (e quem será?)
pronunciarei sem rir a palavra «Amor».
A meus pés, o futuro não escapará
ao lamento dos viúvos, ao clamor dos vencidos.
…Ou sequer à eufórica utopia dos gemidos.

(Amanhã, não esquecer: Limpar o pó das estantes
e fingir que nada aconteceu. Ou então, que não fui eu).

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

gostei deste poema.

10:55 da manhã  
Blogger João Villalobos said...

Muito obrigado, António. Um abraço para si

11:21 da manhã  
Blogger icendul said...

limpar o pó das superfícies que nos guardam - os nossos livros e objectos são pedaços de nós - não é um mero apagamento: há toda uma área de suporte que fica polida, apta a novas partículas da humana poeira que o movimento das horas traz para renovar os dias.

10:53 da manhã  

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