17.1.07

Tens um bicho-da-seda pousado nos cabelos
e um nome na palma da mão,
assim o escreviam as namoradas para sempre.
(A tinta caneta cristal, grossa, azul,
desbotada pela água ou o suor).

Contigo retorna esse som, cego e devorador,
das lagartas triturando as folhas de amoreira,
e depois o silêncio expectante dos casulos
e depois o frenético crepitar das asas
e depois nada,

nada mais recordo porque o teu nome
deitei-o fora numa limpeza escura,
sacudido com o pó e bocadinhos de cotão.
Arrependi-me depois, deves saber,
mais ainda por tê-lo pronunciado um dia

por o ter beijado, cuspido e gritado antes,
muito antes e antes
de encerrá-lo na gaveta proibida.
Arrependi-me disso também e muito mais
haveria a dizer, mas para quê? É outra vez tarde.

Porque os nomes tornam-se um cão
que se rejeita e volta jamais.
Não por falta de vontade,
mas por não saber como regressar.
Para junto daquele que o deixou de amar.

4 Comments:

Blogger JCA said...

Caro João,ainda voçê diz que a sua poesia é coisa menor,ora!ora!.
Parabens.

Um abraço

11:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É muito bonito, é mesmo muito bonito.
É uma viagem...

3:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei muito deste regresso.

11:43 da manhã  
Blogger Ricardo António Alves said...

Bravo!

6:42 da tarde  

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