22.3.06

Lugar aos leitores

Caras leitoras e caros leitores, visitantes, amigas e amigos, povo em geral: Esta semana...é a vossa vez! Atravessando os autores do Prazeres um período particularmente preguiçoso das suas existências, decidiram os mesmos lançar o projecto de construção de um texto literário colectivo e participado por todas/os nós/vós.

Assim, as regras são as seguintes:

1. Eu começarei escrevendo um parágrafo inicial.

2. O primeiro visitante a aceitar o desafio deixará a sua continuação da história na caixa de comentários, com um máximo de 100 palavras.

3. O visitante seguinte continuará o texto do visitante anterior.

4. E assim por diante até ao final desta sexta-feira, dia 24.

Os comentários serão depois adicionados num post a publicar, com destaque para todos os autores que tenham contribuído na sua elaboração.

Entenderam? Então bora lá!

O primeiro parágrafo e pontapé de partida da história é o seguinte:

Quando Jovem Ricardo fechou a porta da casa a que chamava sua e decidiu por fim enfrentar a missão que lhe estava destinada, foi confrontado com uma esplendorosa manhã de Sol e o cheiro a terra e relva, molhadas pela chuva inesperada da noite anterior. Para qualquer outra pessoa, este poderia ser o auspício de um resto de dia feliz mas, para ele, não passava de mais uma manifestação do sentido de humor negro e deformado de quem quer que fosse o responsável pelo estado de caos a que chegara a sua vida.

14 Comments:

Blogger Nuno Vieira said...

Decidiu assim o jovem Ricardo caminhar até à ponte e olhar o rio. Pensou que a melhor solução para a ausência de solução da sua miserável vida, seria dar o passo final em direcção ao abismo das águas calmas do rio que acolheriam o seu corpo, talvez já sem sentidos, no seu leito. Mas faltava a mãe coragem, e essa era a história da sua vida. Decidiu então procurar conforto nas partes menos aconselhaveis desta cidade de alma feita mas suja como granito.

1:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

deitando contas à vida pela borda de um passeio não deu pela vida de um eléctrico em corrida desenfreada com um triciclo motorizado, conduzido por um veterano da guerra colonial que deixou as pernas na Guiné. Ambas. Ao sentir o baque das costelas fora do sítio Ricardo compreendeu que a ironia do Altíssimo era muito fina - vinham aí as maravilhas do Serviço Nacional de Saúde. Só para compor o ramalhete.

9:30 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mas não. Afinal só a sua mente tinha iniciado aquela viagem - o rio não existia, a ponte não atravessou, não houve eléctrico - continuava à porta de casa, sua casa, tentando fechar lá dentro mais uma noite de solidão.
Começou a caminhar pelo lado direito do passeia, junto às rosas, da Sra. Clara, junto ao limoeiro do Sr. Antunes, sempre os mesmos passos.
- Bom dia!
Soou uma voz, doce e fresca.

9:54 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O anónimo é a Innie.
Desculpa João.

9:56 da manhã  
Blogger Sol said...

Bom dia, só se for para si, pensou... amaldiçoando-se pela tristeza que era a sua vida. Aquele sol lindo estava a irritá-lo verdadeiramente. Porque é que não está um dia de frio, chuvoso, de vento para, assim, me sentir mais acompanhado? Ainda assim, muito timidamente, quase a medo, respondeu, num sussurro:
- Bom dia para si também menina Carolina!
Não esboçou um sorriso sequer...

11:22 da manhã  
Blogger Maria Carvalhosa said...

Decididamente, estava de mal com o mundo. Ou seria o mundo inteiro que se tinha virado contra ele? Perdido na intranquilidade das suas interrogações sem resposta, deambulou, passeio fora, até quase esbarrar noutra pessoa. Ambos pararam e pediram-se, mutuamente, desculpa. A voz terna e sensual de uma mulher fez Ricardo levantar os olhos do chão.Como não reparar na beleza dos olhos profundos e carregados de promessas que fixavam, com determinação e sem pudor, os seus?

2:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E pronto! Lá tinha a história de ir parar a um amor à primeira vista! grrrr!

3:08 da tarde  
Blogger Maria Carvalhosa said...

maria c.,

Só se quiseres... estás ainda a tempo de dar-lhe a volta!
;)

4:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

(ok, continuo)
Era a Maria Rosa que o olhava. Sorriram. Colegas de infância, cumplices de outras vidas, não lhes chegava o tempo para grandes festas. «Como vai a tua mãe?» «Está fina. E a tua?»«Temos de combinar um jantar! Agora estou com pressa» e num beijo ficou a promessa esboçada.
Coincidencias. Encontros. O dia começava a correr bem. Ricardo sorriu-se e continuou a caminhar.

5:04 da tarde  
Blogger admin said...

Ricardo tinha uma missão. E há que reconhecer que o simples facto de ter uma missão coloca alguma ordem no caos da vida. Para Ricardo a missão e o caos confundiam-se e esperava pacientemente um sinal exterior que lhe fornecesse os dados que faltavam. Por isso começara o dia caminhando atento aos gestos mais bruscos do acaso. Nada a assinalar até agora. Mas se Ricardo não estava disponível para um amor à primeira vista, ainda estava menos para uma missão kafkiana que não conhece o seu objecto: da primeira pode fugir-se; da segunda não.

7:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ricardo, de facto, esperava um sinal exterior, mas a vida não parava... De repente tudo se povoou de nelinas opacas - sabia que havia algo omitido, diferente, que ainda se sentia. Decidiu, enquanto esperava pelo tal sinal, substituir as neblinas por outras transparentes - organizar as suas gavetas, harmoniosamente -, sabia que depois tudo lhe voltaria a sorrir...até o amor escondido!'Glória Passos do Vale'

10:51 da tarde  
Blogger Clotilde S. said...

Pegou no seu caderninho preto, o tal das notas e observações, e começou a escrever desenfreadamente.Ricardo queria registar todas as cores e nuances da vida, todos os sinais ocultos que a o cosmos lhe enviava. sim! Ele tinha um sexto sentido, seria esse um sinal de uma certa mariquice?, adiante, a sua intuição dizia-lhe que , se se mantivesse atento, haveria de encontrar o tal sinal. Os olhos escuros da Maria Rosa brilhavam-lhe na mente , mas ele não encontrava palavras para os descrever.Sentou-se na berma do passseio. Um ratito cinzento saíu da toca de um velho muro e veio agachar-se a seu lado.

10:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O jovem Ricardo olhou incrédulo para o rato. Aquela solidariedade com um animal para ele tão desperezível deu-lhe que pensar. Seria esse o sinal que esperava? Sentindo-se subitamente cansado dos seus próprios pensamentos auto-destrutivos, pegou em si mesmo e no seu bloco e dirigiu-se até à praia deserta. Março começara com dificuldade em despedir-se do Inverno. Não estava propriamente calor. De repente, movido por uma força desconhecida, o jovem Ricardo começou a despir-se e, de cuecas, avançou pelo mar a dentro. Mergulhou, nadou e voltou a mergulhar. Aos poucos, começou a sentir-se mais leve. Limpo. Quando finalmente saíu da água, o Sol começou a brilhar, poupando-o a uma provável constipação. Estendeu-se na areia, com as pernas e os braços abertos. Um ruido estranho chegou-lhe aos ouvidos. Surpreendido, percebeu que vinha da sua roupa enrolada no chão ao seu lado. Não, não era o telemóvel. Sentou-se num ápice ao perceber tudo. Escondido algures por baixo da manga da sua camisola, lá estave ele: o rato!

12:10 da tarde  
Blogger Clotilde S. said...

Que diacho! Parecia perseguição!Não podia levar o animal para casa.Casa? Mas onde ficava a sua casa?Não havia nada de apelativo naquele velho apartamento e solteiro, cheio de meias desencontradas debaixo da cama e frascos de maionese fora de prazo a atafulharem o frigorífico.
Ricardo sentiu subitamente saudade da casa da avó e do seu bolo de yogurte a fumegar ainda em cima da bancada da cozinha.Outros dias...
Agora estava ali , em plena praia deserta, a tremer de frio, com um rato na manga. Ainda se fosse um coelho na cartola.
Decididamente, a vida não lhe sorria.

3:12 da tarde  

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