dia
lembras-te daquele dia em que
a caneta composta sobre o tampo da mesa
uma casa portuguesa e pão e vinho
os bifes a descongelar sobre o balcão
os dias quietos sem se dizer palavra
lembras-te daquele dia em que
a tostadeira a incendiar pelos teus olhos
o sol que entrava em ângulo complicado pela janela mal fechada
o verso mal cortado, respirando ainda
os comprimidos e os lenços de papel
pois foi aquele dia em que tu
vieste finalmente fechar uma porta cá em casa
com os teus dedos fortes e os teus cabelos despenteados
disses-te duas ou três verdades copiadas de um manual de sobrevivência
e saíste porta fora até à tua ausência
A ausência que se inscreve numa porta fechada.
Espero que para a tua poesia, haja sempre um "Volto já".