Estátuas no crepúsculo
O sol descaía sobre o largo rio. Em frente à fortaleza, havia uma praia onde os pescadores poisavam as pirogas longas e negras. Alguém esticara pequenas redes entre paus e os miúdos brincavam por ali, na areia. A outra margem já era apenas uma distante sombra cinzenta, coberta pela cor alaranjada e vermelha do céu. Nesse momento (ela tinha o olhar preso na rede do infinito), segurei a mão de Eva. Percebi com surpresa (repugnância?) a pele suada; estupidez minha, como podia ser de outra maneira, naquele calor de brasa?
A fortaleza estava à nossa esquerda. Caminhámos na sua direcção. Era um fortim baixo (talvez cinco metros de altura), caiado de branco, o torreão em cada canto e o rendilhado das ameias a lembrar papel recortado numa brincadeira. A porta era para trás, para a povoação, e o olhar dos soldados deveria contemplar a solidão do rio. Coberta pelo intenso branco, a pedra perdera o ar antigo. Ao passarmos o portão (havia uma abertura no muro, sem sinal de madeira) vimos as estátuas, espalhadas no pátio.
Eva riu-se (a beleza pura do movimento que fez, o cabelo loiro a soltar-se, o riso no olhar azul). No primeiro momento, ofendera-me o tom agudo da gargalhada, mas depois reconheci que havia qualquer coisa de ridículo na grotesca disposição das estátuas.
Um general de largos bigodes comandava as tropas numa posição de rampa inclinada, um braço a apontar para nós, ou antes, o dedo em riste. O navegador quinhentista, atrás dele, parecia que acabara de descobrir aquela terra, mergulhando o nariz nela; e o governador antigo, esse estava quase de pé, seguro a outra estátua enviesada, que me pareceu o que restava de uma deusa branca, ou sereia, ou algo de indefinido.
Aceitara finalmente o riso de Eva. Por gestos, fiz-lhe ver que a trouxera ali para apreciar o efeito de um passado agora depositado no mesmo fortim onde tudo começara.
Eva compreendeu o meu embaraço:
“Os impérios morrem”, disse ela.
“Acho isto triste!”
“É como as pessoas, suponho! Nascem e crescem, conhecem o esplendor e, então, a chama apaga-se lentamente, num declínio!”
Foi assim que Eva falou, embora sorrindo e num tom de voz que não tinha rasto de censura ou de melancolia.
Depois, deu-me de novo a mão. Ficámos um bom bocado em frente ao rio a ver o crepúsculo. Então, regressámos à vereda estreita que se internava pelo mato, até ao local onde tínhamos deixado o jipe. Eu ia à frente e senti, em todo o caminho, o sufoco das sombras densas que se apertavam em torno da vegetação, como se fosse o abraço de uma poderosa serpente.
A fortaleza estava à nossa esquerda. Caminhámos na sua direcção. Era um fortim baixo (talvez cinco metros de altura), caiado de branco, o torreão em cada canto e o rendilhado das ameias a lembrar papel recortado numa brincadeira. A porta era para trás, para a povoação, e o olhar dos soldados deveria contemplar a solidão do rio. Coberta pelo intenso branco, a pedra perdera o ar antigo. Ao passarmos o portão (havia uma abertura no muro, sem sinal de madeira) vimos as estátuas, espalhadas no pátio.
Eva riu-se (a beleza pura do movimento que fez, o cabelo loiro a soltar-se, o riso no olhar azul). No primeiro momento, ofendera-me o tom agudo da gargalhada, mas depois reconheci que havia qualquer coisa de ridículo na grotesca disposição das estátuas.
Um general de largos bigodes comandava as tropas numa posição de rampa inclinada, um braço a apontar para nós, ou antes, o dedo em riste. O navegador quinhentista, atrás dele, parecia que acabara de descobrir aquela terra, mergulhando o nariz nela; e o governador antigo, esse estava quase de pé, seguro a outra estátua enviesada, que me pareceu o que restava de uma deusa branca, ou sereia, ou algo de indefinido.
Aceitara finalmente o riso de Eva. Por gestos, fiz-lhe ver que a trouxera ali para apreciar o efeito de um passado agora depositado no mesmo fortim onde tudo começara.
Eva compreendeu o meu embaraço:
“Os impérios morrem”, disse ela.
“Acho isto triste!”
“É como as pessoas, suponho! Nascem e crescem, conhecem o esplendor e, então, a chama apaga-se lentamente, num declínio!”
Foi assim que Eva falou, embora sorrindo e num tom de voz que não tinha rasto de censura ou de melancolia.
Depois, deu-me de novo a mão. Ficámos um bom bocado em frente ao rio a ver o crepúsculo. Então, regressámos à vereda estreita que se internava pelo mato, até ao local onde tínhamos deixado o jipe. Eu ia à frente e senti, em todo o caminho, o sufoco das sombras densas que se apertavam em torno da vegetação, como se fosse o abraço de uma poderosa serpente.
Em Eva sente-se a época do esplendor. No texto sente-se. Sente-se o calor... Sente-se... Na paisagem a indiferença ao declínio... dos impérios.
Para o autor, é o melhor dos elogios perceber que um leitor sentiu o texto