14.3.06

conversa

Ele era assim -
sentado no carro já bastante tarde, os olhos a fecharem-se com os minutos, ouvir os passos das pessoas lá fora, sentir o sono que se apodera, deixar, vagamente, a mão a passar pelas pernas e, sobretudo, sobre todas as coisas, não a deixar ir embora, não.

Ela era assim -
remexer-se no banco o mais que pudesse até encontrar uma posição que a fizesse ficar até muito muito tarde, contar-lhe todas as coisas que nascessem na fusão dos seus pensamentos, cativar algumas palavras que lhe pareciam, habitualmente, difíceis, sentir-se, muito muito, à vontade.

E depois -
o tic tac do relógio o tempo todo sem parar, o guarda-nocturno a olhar para dentro do vidro embaciado, um gato, perdido, a atravessar a estrada, dois miúdos com os copos, duas mulheres vindas do trabalho, os carros dos padeiros a distribuir pão para várias direcções, dedos entrelaçados, o prazer de uma conversa sem fim. até ao adormecer.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Muito sensorial. Gostei imenso.

12:37 da tarde  
Blogger hala_kazam said...

há momentos em que o tempo deveria parar...

gostei muito

*beijos*

3:19 da tarde  
Blogger aibieme said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

9:34 da tarde  
Blogger aibieme said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

9:34 da tarde  
Blogger aibieme said...

Exacta mente!

9:36 da tarde  
Blogger Clotilde S. said...

Encerrar os sentidos numa caixa chamada "carro",deixar embaciar até que o mundo deixe de ser do lado de fora.Ele. Ela. O carro. Aqui e agora.
Parabéns!

10:42 da manhã  

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