Era uma vez...
...uma mulher que não sabia gerir o deve e o haver. Vivia, por isso, em constante desequilíbrio no balancete dos seus dias e das suas noites.
As amigas diziam-lhe que dava demais e, assim, nunca haveria de receber. Ela, incapaz de entender a perversidade intrínseca do raciocínio, argumentava.
Umas vezes, que quem muito dá - «é inevitável!» - muito receberá. «Só preciso de saber esperar», dizia.
Outras vezes, respondia quase gritando que o amor não era uma troca de mercadorias. Que (e aqui os décibeis subiam alguns tons) bastava a palavra relação para ter vontade de vomitar.
Nas outras alturas, essas em que a fragilidade a transformava numa miniatura de Limoges, dizia sussurrando que talvez não soubesse receber. Que não sabia dar da melhor maneira, que dava sempre na altura errada. Que a culpa talvez da mãe, ou talvez do pai...
As amigas choravam com ela. Recordavam coisas boas do passado para fazê-la sorrir, contavam as suas próprias histórias tristes, para que visse que ninguém é feliz (mesmo que não o acreditassem).
Esta mulher de quem falo ainda hoje bebe o seu café pingado de manhã no mesmo café onde a inventei. Outro dia, não os culpo se não acreditarem, perguntei por ela a uma dessas suas amigas. Que estava óptima, respondeu. Mas recusou-se a explicar-me porquê. Suspeito que saiba qual é a minha ocupação, que sou há muitos anos revisor oficial de contas. A tempo inteiro.
As amigas diziam-lhe que dava demais e, assim, nunca haveria de receber. Ela, incapaz de entender a perversidade intrínseca do raciocínio, argumentava.
Umas vezes, que quem muito dá - «é inevitável!» - muito receberá. «Só preciso de saber esperar», dizia.
Outras vezes, respondia quase gritando que o amor não era uma troca de mercadorias. Que (e aqui os décibeis subiam alguns tons) bastava a palavra relação para ter vontade de vomitar.
Nas outras alturas, essas em que a fragilidade a transformava numa miniatura de Limoges, dizia sussurrando que talvez não soubesse receber. Que não sabia dar da melhor maneira, que dava sempre na altura errada. Que a culpa talvez da mãe, ou talvez do pai...
As amigas choravam com ela. Recordavam coisas boas do passado para fazê-la sorrir, contavam as suas próprias histórias tristes, para que visse que ninguém é feliz (mesmo que não o acreditassem).
Esta mulher de quem falo ainda hoje bebe o seu café pingado de manhã no mesmo café onde a inventei. Outro dia, não os culpo se não acreditarem, perguntei por ela a uma dessas suas amigas. Que estava óptima, respondeu. Mas recusou-se a explicar-me porquê. Suspeito que saiba qual é a minha ocupação, que sou há muitos anos revisor oficial de contas. A tempo inteiro.
Muito, muito bom...
Porque começamos com 'era uma vez' quando queremos dizer que acontece muitas vezes? A contabilidade repete-se e os sonhos também. O que fica único e feliz é a maneira própria de dizer. ;)
Uma mulher vulgar descrita de uma forma original. Em momento de crise, nada como fugir das contabilidades. Gostei imenso.
Está engraçadíssimo, João.
Um beijo.
cara Rosinha,
Sempre foi esse o meu problema. Filmes de ficção a mais e livros também :)
Bjs
Cada um qual contabiliza a seu modo e o João, como revisor oficial, há-de sabê-lo melhor do que eu.In my humble opinion,sempre considerei mais importante a qualidade do que se dá e recebe , do que a quantidade propriamente dita.
Gostei desta história com um twist inesperado.