Cartas de Eva na cidade
Um cérebro cansado a ouvir em repetição a mesma frase mil vezes
- prostitutas macaenses a ligarem de noite para minha casa, a acordarem a minha mãe para falarem com o meu pai; o meu pai só sabia não estar
( o meu pai nunca esteve.)
(porquê, pai? porquê?)
eu a imaginar o teu inglês no telefone com elas a rirem, o inglês de uma criança tímida e baixa que não chegava ao móvel do telefone da sala; o teu inglês a desculpar o teu pai pela ausência
(o teu inglês sem imaginar, o teu inglês sem saber)
a tua mãe do quarto: quem é? Quem? Quem fala?
Eu a olhar-te.
(...) agora diz-me, por favor diz-me, que se eu tomar banho e me lavar bem as putas macaenses se vão embora da minha cabeça e eu vou poder sair disto;
diz-me que se eu me lavar bem atrás da orelha, entre os dedos dos pés, se eu souber esfregar mesmo bem as minhas pernas:
jura-me aqui que se eu comer a sopa toda e se deixar que me penteiem sem chorar
a minha mãe,
(a minha mãe também nunca soube de nada)
jura-me que a minha mãe não me vai mandar com o meu pai e eu não vou ficar fechada com ele de noite, com ele de noite a tocar-me entre as pernas
(eu e as minhas pernas: tínhamos as três cinco anos)
diz-me que não vou vomitar agora porque cada vez que em lembro disto não me apetece chorar, apetece-me foder e vomitar ; não me apetece chorar
(eu nunca fui muito de chorar)
um dia jura-me que isto passa: um dia juro-te que vais ser feliz.
- prostitutas macaenses a ligarem de noite para minha casa, a acordarem a minha mãe para falarem com o meu pai; o meu pai só sabia não estar
( o meu pai nunca esteve.)
(porquê, pai? porquê?)
eu a imaginar o teu inglês no telefone com elas a rirem, o inglês de uma criança tímida e baixa que não chegava ao móvel do telefone da sala; o teu inglês a desculpar o teu pai pela ausência
(o teu inglês sem imaginar, o teu inglês sem saber)
a tua mãe do quarto: quem é? Quem? Quem fala?
Eu a olhar-te.
(...) agora diz-me, por favor diz-me, que se eu tomar banho e me lavar bem as putas macaenses se vão embora da minha cabeça e eu vou poder sair disto;
diz-me que se eu me lavar bem atrás da orelha, entre os dedos dos pés, se eu souber esfregar mesmo bem as minhas pernas:
jura-me aqui que se eu comer a sopa toda e se deixar que me penteiem sem chorar
a minha mãe,
(a minha mãe também nunca soube de nada)
jura-me que a minha mãe não me vai mandar com o meu pai e eu não vou ficar fechada com ele de noite, com ele de noite a tocar-me entre as pernas
(eu e as minhas pernas: tínhamos as três cinco anos)
diz-me que não vou vomitar agora porque cada vez que em lembro disto não me apetece chorar, apetece-me foder e vomitar ; não me apetece chorar
(eu nunca fui muito de chorar)
um dia jura-me que isto passa: um dia juro-te que vais ser feliz.
Muito bonito! E forte, claro está...
não precisa de passar.
num filme atingem-se alguns climax. enfim... há altos e baixos. com a inesita sustemos a respiração a cada momento de cada poema e perguntamos kuando é ke isto vai parar.
é claro ke dizer ke o "...pai nunca esteve." é trivial e olha-se para o lado para ver kem é ke lá está e depois retoma-se a marcha.
Cara Inês Leitão,
gostei muito - continue a escrever!
és linda**