6.7.06

todas as pessoas sozinhas

todas as pessoas sozinhas dançam devagar na sala de espera
mesmo que o dia seja quente e convide a passeios ao luar.
a música é sempre a mesma, assobiada ao ouvido
por um rapazinho tímido e fechado do qual não se sabe o nome
e a destreza que podemos alcançar, neste querer dar o passo certo,
é apenas uma mínima ideia da força dos nossos desejos.

todas as pessoas sozinhas sorriem em frente ao espelho
e lavam os dentes como quem arranca beijos à emoção
de ter ali, à nossa frente, alguém de quem gostamos muito.
a porta da rua é um lugar por onde só se sai,
a nossa família é uma fotografia pendurada na parede
e os amigos são aqueles que nos dão bons dias no café.

todas as pessoas sozinhas gritam baixinho os nomes esquecidos
que outras pessoas sozinhas lhes sussurraram alto uma vez,
quando ainda éramos todos uns dos outros.
engomada a camisa, vestimo-nos com o cuidado solene
daqueles que vestem camisas com emoção e significado
enquanto esperam a hora certa para morrer ou nascer.

todas as pessoas sozinhas todas as pessoas sozinhas
embrulhadas em lençóis frescos porque é verão
a rebolar as dores de pescoço pelas duas almofadas da cama
e a pensar que de tanto dormir assim sem ninguém
vai ser difícil voltar a adormecer só num dos cantos do colchão.
todas as pessoas sozinhas todas as pessoas sozinhas.

8 Comments:

Blogger L. Rodrigues said...

Lembrou-me uma pequena anedota que o meu avô me contou:
Iam 99 galegos por uma estrada quando lhes sai ao caminho um salteador. Temerosos, deram-lhe tudo o que tinham. Quando na aldeia próxima alguém lhes perguntou porque não tinham tentado enfrentar o bandido, responderam:
"— Mas como? Estávamos sozinhos...!"

2:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"a porta da rua é um lugar por onde só se sai,
a nossa família é uma fotografia pendurada na parede
e os amigos são aqueles que nos dão bons dias no café", é exatamente isso! Gostei muito, muito. Beijos, Tati

3:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei especialmente destas duas passagens do teu texto

Parabéns e continua..

"...todas as pessoas sozinhas gritam baixinho os nomes esquecidos
que outras pessoas sozinhas que lhes sussurraram alto uma vez..."

"...todas as pessoas sozinhas
...a rebolar ... pelas duas almofadas da cama
e a pensar que de tanto dormir assim sem ninguém..."

9:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

No âmago
no centro da solidão

na cadeira do cinema...
correm-me as lágrimas em fio

o filme é bom
a condição intensa

a verdade + pura
a q todos estamos expostos

O âmago da solidão universal

profundamente sós

sem luz
nem estrelas
nenhum som

o vazio infinito q atravessa

é a essência

abre-te, aceita, engole-o
mete-o no teu estômago

sofre, chora, .. és tu

... .. és Nada ..
és a imensidão do Nada

viajo às escuras
nas veias e artérias

percorro o interior

quente e viscoso

n sei como entrei
nem se quero
nem me questiono

É a condição

Viajo..
no fluido
deste sempre

12:41 da tarde  
Blogger Luis F. Cristóvão said...

oh blota, tu devias era arranjar um profile e juntares-te ao universo dos blogs... o que te parece?

obrigado pela força ;)

9:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Se calhar tens razão Flip,

ñ devia andar a parasitar os blogs dos outros,
mas ñ invisto o suficiente para poder manter um meu,

seria uma responsabilidade.., estar sempre a debitar..
ñ me dedico o suficiente para poder manter um..

bgda p'la sugestão e desculpa a intromissão,

abrç, bolota

2:25 da tarde  
Blogger Luis F. Cristóvão said...

intromete-te quando quiseres! ;)

5:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Obrgd,

Sendo assim.. fico feliz .. e ..
vou continuar
a meter-me onde ñ sou chamada..
só de qd em vez, claro
;) ;)

6:18 da tarde  

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