declamador
ele abria muito a boca e a sua voz transformava-se, forte, num verso ou
ele abria muito a boca e um verso transformava-se, novo, na sua voz. qualquer coisa ali deixava de ser um rapaz, um livro, uma voz - leitura incandescente aos olhos de quem vê - para ser muito mais uma torrente de sons consentidos, com sentidos, que disparavam faíscas pelas componentes cerebrais, não das pessoas, mas da própria sala.
ele abria muito a boca e, ao mesmo tempo, pelas mesas da sala as bocas abriam-se em refrão, sem som, de uma admiração atingida pelas palavras. a saliva deixava-se escorregar pelas paredes da boca até aflorar aos lábios que, suspensos na imitação do poema, se fechavam antes da alvorada da mesma. não era sequer preciso perceber muito bem o que ele dizia, no fundo, talvez ele não dissesse nada. era só aquela sensação de prazer a crescer do coração para a boca e da boca, de novo, ao coração.
ele abria muito a boca e um verso transformava-se, novo, na sua voz. qualquer coisa ali deixava de ser um rapaz, um livro, uma voz - leitura incandescente aos olhos de quem vê - para ser muito mais uma torrente de sons consentidos, com sentidos, que disparavam faíscas pelas componentes cerebrais, não das pessoas, mas da própria sala.
ele abria muito a boca e, ao mesmo tempo, pelas mesas da sala as bocas abriam-se em refrão, sem som, de uma admiração atingida pelas palavras. a saliva deixava-se escorregar pelas paredes da boca até aflorar aos lábios que, suspensos na imitação do poema, se fechavam antes da alvorada da mesma. não era sequer preciso perceber muito bem o que ele dizia, no fundo, talvez ele não dissesse nada. era só aquela sensação de prazer a crescer do coração para a boca e da boca, de novo, ao coração.
Imaginem um bar de cinema.
Imaginem dois acordeonistas.
Imaginem umas mesas redondas.
Imaginem poemas.
Imaginem música.
Uma tertúlia musicada.
A voz e o gesto de um poeta entregues às palavras de outro poeta.
Ontem, eu estive lá e gostei .Bravo Declamador!