13.2.06

Estavas aqui, mesmo ao lado. Não perguntavas, nem dizias coisa alguma... Já foi há muito tempo. Estares calada era o teu encanto, talvez nascido de desencantos mil.
Demos as mãos e ficámos em silêncio,enquanto coisas terríveis sucediam pelo mundo.
Não se sabe se algo aconteceu, apenas que dali nasceu um desenho, um filho de papel e sangue negro.
Era um desenho triste, escuro e alucinado como todos os desenhos que ninguém vê... Ninguém sabe explicar um desenho sem explicação e aquele era um deles. Ficou esquecido em algum canto, como esquecido ficara esse amor que não conseguiu sobreviver às vicissitudes da vida. Um amor esvaído em sangue e esquecimento.
«Qual é a coisa mais triste do mundo?» perguntara-lhe ela num raro momento, em sussurro. «Por que é que tudo acaba, em especial o que nunca devia terminar?». «Por que é que gastamos tanto tempo e energia com pessoas que não nos merecem?». «Por que é que o mal só acontece aos melhores, pois que aos piores isso é justica?»...
Passaram-se anos e a única coisa que resta desse momento é o silêncio. Igual, penetrante e medonho como o desse dia. Feito de nada, sem peso mas com poesia. Um silêncio que parecia a ausência de toda a cor, um silêmcio inocente como um menino.
Sempre que te recordo, és tu esse nada feito de nenhum som, nenhum peso, algo que flutua.
Já não te recordas de mim, nem desse dia, já não me vês no ecrã da tua memória, ou em algum disco de platina. Já não existes.
Nuno Alves Martins