2.2.06

A crise dos cinquenta

A moda feminina recuperou os calções. Outra vez. Assim vestida, a Joana parecia a Lady Godiva antes de tirar a roupa, mas isso não poderia eu dizer-lhe porque Godiva, para ela, só os chocolates. Acho que a escolhi, entre outras qualidades mais acidentais, por essa substancial ausência de memória própria da juventude. Afinal, quem não tem memória também não compara. E eu não gosto de ser comparado.
Ao olhar para os calções e as botas da Joana tornada amazona interroguei-me sobre por que razão, eu que nunca vivi longe das mulheres, jamais me sentira ameaçado por elas. Até agora.
- Joana, tem alguma amiga lésbica? Perguntei-lhe então em tom sussurrado em plena esplanada.
- Ó Eduardo! Francamente! Já falámos no assunto e eu recordo-lhe que não tem idade para essas fantasias. Você mal dá conta do recado comigo e ainda se põe com delírios.
- Não é isso Joana! - declarei indignado - Fale mais baixo! O que é que a menina acha destas duas que agora se querem casar?
- O que acho? Olhe, acho um desgosto! Deviam ter ido ao cabeleireiro primeiro e só depois à televisão.
Foi aí que percebi que, no que toca às mulheres, não se pode generalizar. Tardou mas foi. Aos 50 anos ainda recebo lições de vida.

8 Comments:

Blogger Paulo Cunha Porto said...

É bem verdade. Tendencialmente, a Mulher, mesmo quando defende um ponto de vista genérico, tem presente um caso particular. A abstracção repugna- Lhe, por natureza.
Mas, aqui entre nós, há para aí uns Camaradas que diriam à Amiga do Eduardo que... a interpretação subjacente poderia, precisamente, ter como consequência,... dar melhor conta do recado!

5:46 da tarde  
Blogger Lu said...

Não concordo que a abstração cause tal sentimento no gênero feminino, muito embora exista uma visão muito particular do universo descrito no texto... no mundo, há os que lançam na vida e os que não se lançam e nessa aventura o passaporte é carimbado independente da cor, sexo, idade...
;o)

6:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por outro lado,
existe uma certa imagem de lésbica, mais romântica, que apresenta a mulher homossexual como bonita, cuidada, elegante... feminina.

8:35 da tarde  
Blogger L. Rodrigues said...

Numa festa alguém comentava "O pior das mulheres, é que fazem de tudo um caso pessoal"
De imediato, todas as mulheres em volta viram-se e afirmam em uníssono:
"Ai, eu não!"

8:49 da tarde  
Blogger Sol said...

As mulheres são terríveis!!

12:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

outra vez a guerra homem-mulher??
.. já dei,
ñ há pachorra..

O texto está bem escrito e é actual. Gosto.

o conteúdo foi tratado com certa leveza..

é que são sentimentos envolvidos.., respeito.

xis, tantos

2:41 da tarde  
Blogger zazie said...

":O))

essa faz lembrar aquela da Vida de Brian:

-you ara all indivuals!

- I'm not

7:15 da tarde  
Blogger Clotilde S. said...

Lady Godiva, patrona das artes e exímia amazona (segundo a lenda) não usava nem calções nem botas de montar. he he Tal como Rapunzel, usava os seus lindos cabelos para se cobrir ou então seguia a moda das senhoras da época , Sec. x, por aí...Isto leva-nos a comentar que há de facto um fio condutor no seu texto que começa com cabelos e acaba em cabeleiro. A senhora ( a do texto) não é tão parva quanto o autor quer fazer parecer.O Eduardo, nos seus cinquenta ( crise? porquê?)há-de continuar a aprender, mas nunca compreenderá as mulheres.E, se por acaso ou desígnio divino, um dia tivesse algum vislumbre de como as mulheres são verdadeiramente na sua secreta intimidade, acharia que a vida teria perdido toda a graça. A piada está toda no mistério. Ou não?

6:41 da tarde  

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