Super Fulmina
(...) como se por baixo da porta do quarto nascessem sanguessugas rectangulares azuis,
sanguessugas azuis de gordura a passarem a porta escura na espessura simétrica da chuva lá fora
-a chuva lá fora corrói de morte
ou como se o pão do pequeno-almoço se enlarvasse;
como se o pão do pequeno-almoço tomasse a forma amorfa de uma larva sorridente a dizer para a boca humana
-mastiga-me
e alguém a mastigasse.
como se o espelho da casa de banho me derretesse o rosto sem querer
e eu tivesse pena de mim e me tentasse apanhar com as mãos, líquida no branco esmalte do lavatório
ou como se a estação de metro me engolisse;
como se as linhas de metro me interpelassem baixinho, em voz doce dissessem:
- salta, salta
como se eu saltasse perfeita para a morte por electrocussão e me assistisse fulminada.
como se o chão pisado me mordesse os pés e eu não conseguisse fugir porque por debaixo de mim tudo era boca; porque tudo no chão era eu a fugir
como se o leite branco de beber ao lanche fosse o resultado analítico de uma vaca muito velha que vive uma vida muito triste, num prado muito longe: ou, o esperado
como se eu e tu fossemos os dois um Alka Seltzer a respirar pelo nariz presos num simples copo de àgua.
sanguessugas azuis de gordura a passarem a porta escura na espessura simétrica da chuva lá fora
-a chuva lá fora corrói de morte
ou como se o pão do pequeno-almoço se enlarvasse;
como se o pão do pequeno-almoço tomasse a forma amorfa de uma larva sorridente a dizer para a boca humana
-mastiga-me
e alguém a mastigasse.
como se o espelho da casa de banho me derretesse o rosto sem querer
e eu tivesse pena de mim e me tentasse apanhar com as mãos, líquida no branco esmalte do lavatório
ou como se a estação de metro me engolisse;
como se as linhas de metro me interpelassem baixinho, em voz doce dissessem:
- salta, salta
como se eu saltasse perfeita para a morte por electrocussão e me assistisse fulminada.
como se o chão pisado me mordesse os pés e eu não conseguisse fugir porque por debaixo de mim tudo era boca; porque tudo no chão era eu a fugir
como se o leite branco de beber ao lanche fosse o resultado analítico de uma vaca muito velha que vive uma vida muito triste, num prado muito longe: ou, o esperado
como se eu e tu fossemos os dois um Alka Seltzer a respirar pelo nariz presos num simples copo de àgua.
bocados de carne e prazer pelas paredes do quarto, é isso?
:O
chuack chuack chuack
acho que é mais: a metamorfóse. A própria larva prova-o. uma certa procura ou tentativa de se auto-superar ou de trancender o real, salpicado com o trauma de infância de comer a larva que estava dentro da maçã, isto visto pelos olhos de uma criança, ou seja, da larva. e se eu fosse a larva! faz-me lembrar uma composição de um colega da primária que começou a composição com: eu gostava de ser um bicho-da-seda...
o próprio poema tem quatro estados perfeitamente ordenados. a infância, a maturação, a experiência e a morte nas últimas linhas. nunca gostei da maneira como acabam os poemas ou o torpe poeta tem dificuldade em terminar as suas tarefas?
chuack chuack chuack