25.4.06

borboletas

acordar e, nos meus olhos, borboletas nos teus cabelos - pode ser do escuro, da música, da conversa - borboletas, presas, e o teu pescoço - branco branco branco - que eu estudo com o vagar das batidas dos dedos no tampo de madeira enquanto com a outra mão pego num copo que se vai esvaziando na medida em que todo em volta fica ainda mais quente.

acordar e, nos meus olhos, borboletas que falam - os teus cabelos - e também uns quantos homens de barbas a subir e a descer ruas, a música na rádio, os teus olhos de encontro aos meus, os meus olhos que fogem à procura de respirar, o teu pescoço - branco luz branco - que eu trago em sonhos que não posso confessar a mais ninguém que me perceba.

acordar e, nos meus olhos, borboletas que sorriem - como sóis, quentes e naturais - amanhã de manhã qualquer coisa de igual, o dia à espera de um sinal, a tua voz no gravador de chamadas, os teus dedos a enrolar papéis, o teu pescoço - luz branco luz - e eu a perceber que mesmo as asas mais pequenas são capazes de te levar para muito longe de mim.

[este texto foi originalmente publicado no blogue mil nove sete nove, abrindo eu a excepção de o publicar aqui também por sugestão do João.]

10 Comments:

Blogger Luis F. Cristóvão said...

essas e outras borboletas, imaginadas, que talvez não tenham nada a ver com a primavera, ou talvez sim, vá-se lá saber.

:)

9:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito bonito. Sente-se.
sm

8:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Gostei imenso. Luminoso, fresco e sensorial.

10:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

gostei da palavra "branco", só ke a palavra branco não se repete seis vezes!

7:29 da tarde  
Blogger Luis F. Cristóvão said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11:37 da tarde  
Blogger Luis F. Cristóvão said...

quando a literatura for uma aula de linguística, eu desisto.

enquanto for qualquer coisa que rebenta constantemente dentro da minha cabeça, sou resistência armada.

branco branco branco branco branco branco

11:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu diria mais...Branco Branco Branco Branco Branco Branco....Que a Literatura tenha asas de borboleta para voar por cima da linguística.....Muito bonito mesmo!!!

8:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Quelqu'un a grommelé que je cassais l'ambiance."?

9:59 da tarde  
Blogger Clotilde S. said...

A linguística deverá ser para a poesia o que um afinador de pianos é para um concerto de Brahms.Dar-lhe-á algum rigor, mas não lhe dá a alma! Branco e luz e luz e branco!E mais não digo.Bjos.

10:54 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

o ke interessa é ir provocando os tipos da marrafa ao meio.

10:55 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home