28.4.06

Um diálogo

- Estou um bocado farta disto.
- Então porquê?
- É sempre igual. Tudo sempre igual. A vida não me surpreende. Eu não surpreendo a vida.
- Acho que já me tinhas dito isso.
- Também é isso. Digo sempre a mesma coisa. Já não tenho frases novas.
- Talvez seja só uma fase.
- Uma fase!? Que raio de merda é essa, uma fase?! Já não tens 20 anos para dizer inanidades dessas! Vê se cresces!
- …
- Desculpa. Mas isto não é uma fase. A ser alguma coisa é mais um neutro.
- Um quê?
- Um neutro. Como na electricidade, percebes? Há um fio que tem corrente e outro não.
- Queres apanhar um choque, é isso?
- É capaz de ser. Às vezes imagino que tenho um acidente e fico paralisada mas só durante algum tempo. O suficiente para perceber o que ando a desperdiçar e depois tomo decisões radicais e mudo completamente de sentido, de vivência, de sítio e de tudo.
- Também estou um bocado farto disto.
- Mas tu és diferente.
- Porquê?
- Sei lá. Estás sempre com um ar satisfeito, como se te bastasse esta vida.
- Não tenho outra.
- Nem eu.
- E se fossemos sair hoje à noite? Espairecer?
- ...
- Não chores, vá lá!

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

:)
Boa!

3:03 da tarde  
Blogger Sol said...

E que fase...

2:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Senhor, acredite que só apetece chorar...

2:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há tantos momentos assim. Há tantas vidas assim! Gostei imenso.

10:48 da manhã  
Blogger Clotilde S. said...

Um nó na garganta. Às vezes somos assim. Choramos e pronto! Porque sim!

11:12 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ò Luis! Que belo poema. Não é do rol dos fofinhos, mas deixa que te diga que é bem jeitosinho!!

11:59 da manhã  

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