23.4.06

Lamento de um yahoo

Nunca sofri os ventos da monção e no entanto muito novo atravessei Salgari.
Só depois voguei em direcção a Laputa, Balnibarbi ou Glubbdubdrib e descansei ressequido pelo rum a bordo do Hispaniola.

Sou de outro tempo. Daquele em que os mundos de papel nos acolhiam dentro deles e saudavam-nos em cada regresso com um sonho heróico, nessas noites em que aguardávamos sentindo o pulsar do sangue a cada página.

Todos estes anos e vivi, não uma aventura mas milhares. Cada uma preservada ao alcance de um braço como uma chávena de chá, nesta mesma estante que aguarda o desinteresse dos meus herdeiros.

Anacrónica esta vida, tão rapidamente exposta à inutilidade presente? É possível.

Mas, quando assim o sinto, consolo-me com a resposta à pergunta de Aronaxx: «Quem pôde alguma vez sondar as profundezas do abismo»? Talvez tu tenhas o direito de responder. Talvez tu. Certamente eu.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Passei por acaso... mas adorei este texto!!!

Tudo de bom! :)

11:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Penso que os formatos mudam mas os prazeres se mantêm...que pequenos prazeres daqui por trinta anos?

5:01 da tarde  
Blogger Justa said...

Viagens feitas de mochila às costas, à boleia de uma sugestão. Percursos de livro em livro, de pessoa em pessoa. Mesmo sem te deslocares um milímetro.
Descobri o teu texto por acaso, ou talvez não. Uma delícia!
Lamentar o quê?

2:53 da tarde  

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