27.1.06

O quê, como e quando

Ele foi esperá-la ao terminal do autocarro, vindo de longe. Não a via há mais de dois meses e tinham ficado sem resposta todas as sofridas cartas que enviara. Sentou-se num banco de jardim no Campo Grande olhando os barquinhos, a fazer tempo fumando um cigarro e a pensar no que diria, como o diria, quando o diria...


Assim que ela chegou, esqueceu todos os critérios de oportunidade e a frase saiu-lhe de rompante: «Apaixonei-me. Não soube viver assim, com a distância e o silêncio». Ela olhou para ele e sorriu. Ficou perplexo ao senti-la tão genuinamente divertida. «Claro que sim», respondeu ela. E depois: «Anda comigo». Com a delicadeza de quem orienta um sonâmbulo, levou-o pela mão até à primeira pensão que encontraram e as horas que se seguiram nunca ele as conseguiu contar. Ao sairem finalmente para a rua, muito abraçados, ele ia a pensar outra vez o que diria, e como o diria. O quando, esse, podia esperar.

7 Comments:

Blogger Sol said...

Muito bonito... uma vez mais...

3:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

:) é bom quando nos podemos expressar sem dizer uma unica palavra. Mas melhor ainda é quando nem se quer nos preocupamos em encontrar as palavras certas, em busca-las. É tão bom quando nao sabemos e nem queremos saber o momento certo, porque temos a consciencia plena de que ele quando tiver que vir, virá...
Sobretudo, é bom ler textos assim. Em que as palavras se formam num todo, e nos fazem ficar assim... :) felizes, mas sobretudo, sonhadores...
**
Added...

4:03 da tarde  
Blogger L. Rodrigues said...

Curioso paradoxo. Dir-se-ia que o quando é mesmo o mais importante.
Não interessa muito o quê e o como. Mas o momento.
Se ele tivesse ficado calado, que teria acontecido?

PS.
20 anos passaram sobre Chernobyl. Até agora nada de super-heróis, já reparaste?

5:03 da tarde  
Blogger João Villalobos said...

Queridas desconhecidas mas destinatárias da minha ternura sol e ritinha, obrigado.
Luís, os super-heróis somos nós e já cá estamos. O problema é, extintas as cabinas telefónicas à antiga, com privacidade, onde é que mudamos de roupa :)

6:42 da tarde  
Blogger Elisa said...

Casas comigo?

8:48 da tarde  
Blogger João Villalobos said...

Querida Elisa, fiquei embaraçado...É que eu, com esta idade, ainda coro :)

9:17 da tarde  
Blogger Elisa said...

Risos. Embaraçado? Porquê? Não me digas que é a primeira vez que te pedem tal coisa!! Bom, a resposta é não, já percebi...

9:34 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home