18.1.06

O primeiro beijo

Um dia estava grávido de sol e desatei a correr. Corria, corria e toda a força provinha daquele primeiro beijo. Poderia chamar-lhe casto, livre porque ignorante de tudo o que viria depois.

Dias como os de agora, a passos lentos. A pureza do beijo liquefeita no gesto treinado que segue a língua, o sexo hirto pela expectativa sabedora do desejo e, afinal, tudo isso menos.

Menos do que um beijo, dado e recebido com pudor semi-clandestino por detrás da paragem do autocarro. Esse beijo nunca imitado, ressentido ou classificado. As minhas mãos paradas, hoje sábias. O meu sexo inerte. O corpo desnecessário perante o espírito que se abria e empurrava, rua abaixo correndo, aquele que fui eu.

13 Comments:

Blogger I N T E I R O S said...

Dentro de nos há esperas que se ausentam por momentos.

11:17 da tarde  
Blogger lebredoarrozal said...

grávido de sol é uma expressão fantástica:)
o texto é tão bonito:)

12:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ai o primeiro beijo! um verdadeiro marco! Neste texto sente-se bem a excitação, a confusão do momento e ao mesmo tempo, essa certeza e confiança de se ter avançado um degrau acima. Adorei.

9:35 da manhã  
Blogger L. Rodrigues said...

O primeiro.

12:12 da tarde  
Blogger Xixao said...

O primeiro beijo nunca se esquece, essa é que é a grande verdade!...

3:28 da tarde  
Blogger Paulo Cunha Porto said...

Tudo o que foi dito antes é comentarismo do melhor. Mas este iconoclasta desmancha prazeres tem de salientar, contra a poética da estreia e a da memória, que muito do transcendente sentimento descrito se deverá a ter ocorrido num "ménage a trois". O exultante, a outra boca beijocada e... o Sol emprenhador.

3:40 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Está bonito o teu texto João, como quase todos os que escreves.., uns bons, outros muito bons, alguns excepcionais e outros excelentes; não tens medíocres nem maus. De facto tens um talento especial para a expressividade através da escrita, é um dom que agradecemos não o guardares só para ti. Namasté. Sim,lembro-me do 1º beijo, foi a jogar à "verdade e consequência", saíu-me a consequência de beijar quem eu gostava.., fomos atrás de um carro estacionado, pusémo-nos de cócaras para preservarmos a nossa intimidade dos olhares do grupo, tinha onze anos, foi o meu 1º namorado(Tó Zé Avelar).., nunca mais soube nada dele, mas lembro-me dele quando passo numa terra do Norte que se chama Avelar e quando como avelãs.. ..mas melhor que isso foi a 1ª vez que andei de mão dada, com 16 anos, que sensação tão boa sentir uma mão quentinha na minha e passearmos assim pelas ruas do bairro... :)

4:07 da tarde  
Blogger Sol said...

Estavas grávido de mim??? Ehehhe

5:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo plenamente com a Blota sobre o talento do João. Subscrevo e assino, se não se importa. Nunca é demais reforçar.

5:54 da tarde  
Blogger Maria Carvalhosa said...

Caro João,
Aqui para nós, que ninguém nos lê, tanto entusiasmo com a tua escrita, por parte do mulherio blogoesférico, não estará a fazer uma certa ciumeira a um conhecido misantropo, nosso amigo? ;)
Beijinhos.

7:00 da tarde  
Blogger Maria Carvalhosa said...

Caro João,
Aqui para nós, que ninguém nos lê, tanto entusiasmo com a tua escrita, por parte do mulherio blogoesférico, não estará a fazer uma certa ciumeira a um conhecido misantropo, nosso amigo? ;)
Beijinhos.

7:01 da tarde  
Blogger zazie said...

bonito mas sempre com um final triste. O João tem o dom do ritmo e sabe cortar a tempo

1:00 da manhã  
Blogger João Villalobos said...

Cheguei tarde e a más horas a casa e deparei-me com todos estes inesperados comentários, elogios e afins. Sinto-me grato e vou dormir que é o que estou a precisar :)Muito obrigado, o blogue segue dentro de momentos e após a bica dupla da manhã :)

3:30 da manhã  

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