Anjos sem desejo
Germano sabia que aquele seria o último encontro com Adelaide e o seu estado de espírito era o de avaliar os próximos momentos como se encontrasse um anjo, que lhe iria comunicar uma decisão transcendente.
A escola era uma velha casa, com muro baixo a separar o recreio da praça da aldeia, três janelas viradas para o curso do sol, uma nespereira, o campo lavrado atrás de outro muro, descendo a encosta.
Entrou na sala, ela estava ao quadro negro, a ensinar álgebra. Não interrompeu a aula e, passado algum tempo, Germano sentou-se ao fundo, como se fosse um dos alunos. Observou o mobiliário pobre, os tampos inclinados das carteiras alinhadas, a imagem severa do chefe de Estado, o crucifixo e o bolor acumulado nos cantos das paredes. Então, Adelaide mandou as crianças para o recreio, esperou pela acalmia do rumor alegre da debandada e veio sentar-se ao lado dele, como se fossem os dois companheiros de carteira.
“Já sei que eles recusaram”, disse Germano, “mas isso não muda nada”.
Tinham mandado o requerimento para poderem casar. Viera indeferido. Dizia a autoridade, com subtileza, que uma professora primária não podia desposar um cavador analfabeto.
“Deixas de ser professora, vamos para o Brasil”. Germano reflectia em voz alta: “Ou melhor, vivemos juntos”.
Ela sorriu: “Não é possível, amor”.
Depois, ficaram calados dez minutos. Ele absorveu cada momento desta serenidade imensa que os rodeava, o riso das crianças que nunca teriam juntos, as vidas que seguiriam a partir dali rumos diferentes. Nas nuvens sem desejo, para sempre parados no tempo. Depois, Germano acariciou-a levemente na mão, levantou-se e saiu para a luminosidade da manhã.
A escola era uma velha casa, com muro baixo a separar o recreio da praça da aldeia, três janelas viradas para o curso do sol, uma nespereira, o campo lavrado atrás de outro muro, descendo a encosta.
Entrou na sala, ela estava ao quadro negro, a ensinar álgebra. Não interrompeu a aula e, passado algum tempo, Germano sentou-se ao fundo, como se fosse um dos alunos. Observou o mobiliário pobre, os tampos inclinados das carteiras alinhadas, a imagem severa do chefe de Estado, o crucifixo e o bolor acumulado nos cantos das paredes. Então, Adelaide mandou as crianças para o recreio, esperou pela acalmia do rumor alegre da debandada e veio sentar-se ao lado dele, como se fossem os dois companheiros de carteira.
“Já sei que eles recusaram”, disse Germano, “mas isso não muda nada”.
Tinham mandado o requerimento para poderem casar. Viera indeferido. Dizia a autoridade, com subtileza, que uma professora primária não podia desposar um cavador analfabeto.
“Deixas de ser professora, vamos para o Brasil”. Germano reflectia em voz alta: “Ou melhor, vivemos juntos”.
Ela sorriu: “Não é possível, amor”.
Depois, ficaram calados dez minutos. Ele absorveu cada momento desta serenidade imensa que os rodeava, o riso das crianças que nunca teriam juntos, as vidas que seguiriam a partir dali rumos diferentes. Nas nuvens sem desejo, para sempre parados no tempo. Depois, Germano acariciou-a levemente na mão, levantou-se e saiu para a luminosidade da manhã.
Que texto lindo!! Sinto até alguma angústia por um destino tão duro das personagens. Mas está muito bem escrito e com muita sensibilidade.
obrigado pelos vossos amáveis comentários
gostei muito.
abraço