21.12.05

Rosebud, Cap. VI

De repente ele morreu. E tudo o que eu disse àquela mulher que mudara de cor foi «Lamento muito», enquanto olhava de lado para a madeixa descuidada, o brinco na orelha imperfeitamente recortada, único e diminuto toque de luz.
Estavámos no mesmo lugar onde, outrora, as azedas desciam a colina invisível. Aí, onde hoje o betão arranca sombras à terra e os automóveis espezinham as águas passadas, agora subterrâneas, bebíamos nós açúcar mascavado e trocávamos cromos de jogadores hoje esquecidos por todos.
Nós. Eu e este homem deitado para sempre, com este fato vestido para sempre que será, afinal, pouco tempo.
Agora, a mulher olha-me também com metade da cara. Com a outra o seu próprio passado deles e tudo o que diz é: «Obrigada», para depois apertarmos as mãos. Ou antes, afloramos os dedos. E é quanto basta para não mais nos encontrarmos.

2 Comments:

Blogger Paulo Cunha Porto said...

Mas nem sempre é assim. Por vezes, as disponibilidades resgatam da falta de à vontade emergente da dor e potenciam novos ciclos.

9:30 da tarde  
Blogger João Villalobos said...

Olha, olha. Afinal és um optimista :)

9:39 da tarde  

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