21.12.05

O dentista judeu

Quando levaram o dentista judeu da cidade, achei que as autoridades estavam a agir com excesso de zelo. Até esse momento, aquilo não me tocara. O partido tinha aspectos desagradáveis e havia demasiados fanáticos à solta, que ficavam loucos e faziam visitas às pessoas que tentavam levantar a voz. Mas a cidade é minúscula e nunca me pareceu mais do que delinquência em pequena escala, até levarem o doutor Weiss, que era um velho inofensivo e, de qualquer maneira, já não tinha clientela desde 1933. A nossa vida mudou quando levaram o dentista judeu e a sua família. O velho e a mulher, mais a nora e dois netos. Depois, levaram as outras duas famílias judias e deixámos de ver as estrelas de David naqueles fantasmas e pudemos esquecer que tudo acontecera ao pé de nós, perante o nosso silêncio.

3 Comments:

Blogger Ricardo António Alves said...

Magnífico.

12:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito, muito bom.

6:01 da tarde  
Blogger João Villalobos said...

Como o Luís é tímido demais para agradecer estes elogios, agradeço eu por ele :) abraços a ambos

6:13 da tarde  

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