O dentista judeu
Quando levaram o dentista judeu da cidade, achei que as autoridades estavam a agir com excesso de zelo. Até esse momento, aquilo não me tocara. O partido tinha aspectos desagradáveis e havia demasiados fanáticos à solta, que ficavam loucos e faziam visitas às pessoas que tentavam levantar a voz. Mas a cidade é minúscula e nunca me pareceu mais do que delinquência em pequena escala, até levarem o doutor Weiss, que era um velho inofensivo e, de qualquer maneira, já não tinha clientela desde 1933. A nossa vida mudou quando levaram o dentista judeu e a sua família. O velho e a mulher, mais a nora e dois netos. Depois, levaram as outras duas famílias judias e deixámos de ver as estrelas de David naqueles fantasmas e pudemos esquecer que tudo acontecera ao pé de nós, perante o nosso silêncio.
Magnífico.
Muito, muito bom.
Como o Luís é tímido demais para agradecer estes elogios, agradeço eu por ele :) abraços a ambos