Filmes de Culto (I)
A bruma espessa parecia a respiração fria do mar. Desci a rua molhada. Daniela estava na esquina, como prometera na véspera, ao dizer que me queria beijar por uma derradeira vez, antes de eu embarcar de novo. “O meu marido não poderá saber”, avisou. Dizia estar loucamente apaixonada, ronronava como uma gata infantil. Nessa noite, ela cumprira o prometido (ou seria tudo aquilo uma complexa urdidura?) A sirene de um navio uivou no interior do nevoeiro denso. Foi exactamente quando a tomei nos braços, submissa. Daniela agarrou-se a mim, num desespero, numa sede. Senti os dedos dela a cravarem-se na minha carne, presos ao meu braço, até doerem. “Um equívoco”, disse eu, “e se o teu marido descobre?”. Inventara aquela desculpa, com uma brusquidão que me surpreendeu, pois sabia que isso não iria acontecer. Daniela negou essa possibilidade, com um riso desvairado. E daquela forma ficámos alguns segundos, em silêncio, num abraço tão íntimo como o de dois afogados. Então, não pude adiar mais a despedida. “Tens de voltar para ele”, ordenei. O desespero no olhar dela: “Vou contigo, até ao fim do mundo”. E cruelmente expliquei-lhe, sem doçura alguma: “Esse sítio não existe”. Só então, com um gesto dos braços, exercendo alguma força, afastei Daniela, como se ela pertencesse já ao meu passado.
A Bruma do Amor, filme mexicano de 1949
A Bruma do Amor, filme mexicano de 1949
Por esta sinopse melhor iria «A Bruma de Mim»!