Olhos Revoltos
Do sol, no acaso um raio derradeiro,
Que, apenas fulge, morre
escapa à nuvem que, apressada e espessa
para apagá-lo, corre
Alexandre Herculano
Lembro-me de pormenores curtos de gente a passar por mim
( enquanto eu na cama de manhã)
- eu antes de sair de casa
aprendi a masturbar—me sozinha com nove anos de idade; eu entre a parede da sala e a cozinha onde os meus pais discutiam gritos
- eu sempre fui tão sozinha
sempre a gostar de me deitar cedo, de olhar para o tecto do meu quarto num sorriso de líquido doce colado às pontas dos dedos enquanto sabia de vida a acontecer-me no meio das pernas;
eu a pensar que a carne das batatas do almoço não tinha motivo para dizer o que disse,
o que disse quando nos olhámos no prato pela última vez
(no meio da alface, perto do arroz)
- tenho tanta pena de ti, querida
talvez o tenho dito no desespero da morte para me castigar
- eu sempre odiei que me tivessem pena
matei a carne do almoço com a força dos meus dentes de trás.
Não parei de pensar no dia quente que estava a fazer, nos trabalhos que a professora mandou e na possibilidade de chegar à minha cama, depois do banho, para me poder ter com os dedos
- eu sempre me quis ter mais do que os outros me tinham
não parei de pensar no problema da aula de matemática, no meu cão: pensar em mudar a água aos pássaros, nos brinquedos espalhados na sala que devia ter arrumado quando me mandaram
- eu sempre fui obediente antes de viver de mim e dos meus dedos
apenas nunca percebi porque em mim tudo durava tão pouco.
Que, apenas fulge, morre
escapa à nuvem que, apressada e espessa
para apagá-lo, corre
Alexandre Herculano
Lembro-me de pormenores curtos de gente a passar por mim
( enquanto eu na cama de manhã)
- eu antes de sair de casa
aprendi a masturbar—me sozinha com nove anos de idade; eu entre a parede da sala e a cozinha onde os meus pais discutiam gritos
- eu sempre fui tão sozinha
sempre a gostar de me deitar cedo, de olhar para o tecto do meu quarto num sorriso de líquido doce colado às pontas dos dedos enquanto sabia de vida a acontecer-me no meio das pernas;
eu a pensar que a carne das batatas do almoço não tinha motivo para dizer o que disse,
o que disse quando nos olhámos no prato pela última vez
(no meio da alface, perto do arroz)
- tenho tanta pena de ti, querida
talvez o tenho dito no desespero da morte para me castigar
- eu sempre odiei que me tivessem pena
matei a carne do almoço com a força dos meus dentes de trás.
Não parei de pensar no dia quente que estava a fazer, nos trabalhos que a professora mandou e na possibilidade de chegar à minha cama, depois do banho, para me poder ter com os dedos
- eu sempre me quis ter mais do que os outros me tinham
não parei de pensar no problema da aula de matemática, no meu cão: pensar em mudar a água aos pássaros, nos brinquedos espalhados na sala que devia ter arrumado quando me mandaram
- eu sempre fui obediente antes de viver de mim e dos meus dedos
apenas nunca percebi porque em mim tudo durava tão pouco.
E-X-C-E-L-E-N-T-E MESMO.
Continue a escrever!
sim, muito muito bom, Inês :-)
linda**
mais uma apneia poética...