Rosebud, Cap. II
Os automóveis devoraram os nossos caminhos e neles permanecem de barriga cheia. Fartos, adormecidos, inertes, rindo-se da credulidade com que os empanturramos de combustível. Sem entendermos que não é dele que se alimentam mas antes do nosso desespero e desalento, da recusa que apaga dias como aquele em que vi a árvore curvar-se sem que houvesse vento sobre ti, esticando a sombra mas uma sombra quente e suave, nada escura, antes luminosa como a tua saia com a cor das primeiras papoilas. «Que tem isso a ver com os automóveis», perguntarias se ainda aqui estivesses. Mas explico-te com toda a paciência que ainda consigo reunir como os automóveis entupiram as entradas do jardim e como se esticam sobre os passeios que o rodeiam e por vezes o atravessam rindo-se, escurecendo a relva e essa árvore que um dia reduziram a esta ensombrada memória de ti.
mas que histórias tão bonitas!
Muito obrigado. Vou tentar ter pelo menos uma por dia.
Uma história linda, sim. Muito inspirada. Parabéns, João.
Nice story, gostei especialmente da descrição dos automóveis...
muito bonita mesmo:)