14.12.05

Rosebud, Cap. II

Os automóveis devoraram os nossos caminhos e neles permanecem de barriga cheia. Fartos, adormecidos, inertes, rindo-se da credulidade com que os empanturramos de combustível. Sem entendermos que não é dele que se alimentam mas antes do nosso desespero e desalento, da recusa que apaga dias como aquele em que vi a árvore curvar-se sem que houvesse vento sobre ti, esticando a sombra mas uma sombra quente e suave, nada escura, antes luminosa como a tua saia com a cor das primeiras papoilas. «Que tem isso a ver com os automóveis», perguntarias se ainda aqui estivesses. Mas explico-te com toda a paciência que ainda consigo reunir como os automóveis entupiram as entradas do jardim e como se esticam sobre os passeios que o rodeiam e por vezes o atravessam rindo-se, escurecendo a relva e essa árvore que um dia reduziram a esta ensombrada memória de ti.

5 Comments:

Blogger zazie said...

mas que histórias tão bonitas!

1:04 da tarde  
Blogger João Villalobos said...

Muito obrigado. Vou tentar ter pelo menos uma por dia.

1:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Uma história linda, sim. Muito inspirada. Parabéns, João.

5:08 da tarde  
Blogger kimikkal said...

Nice story, gostei especialmente da descrição dos automóveis...

6:18 da tarde  
Blogger lebredoarrozal said...

muito bonita mesmo:)

3:26 da manhã  

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