12.12.05

Rosebud, Cap. I

«As bombas da China, mas grandes não as pequenas, custavam cinco escudos», recordo ao meu amigo de infância. Ele agora é gerente de uma “dependência” bancária mesmo ao lado deste restaurante oriental onde conversamos a meia voz. No seu fato Façonnable de impecável corte, confessa-me: «Estes chinocas chegam-me ao balcão com maços de notas sobre maços de notas, mas não vejo ninguém quando almoço aqui com a minha colega, aquela das pernas tão bem depiladas que nunca consegui tocá-las. Só vejo notas. Mas lembro-me, ainda bem que falas nisso, lembro-me como se fosse hoje dessas bombas de cinco escudos explodindo no chão, explodindo no ar e nós rindo verdadeiros, felizes. E sinto que nunca cinco escudos valeram tanto e as notas valeram tão pouco, isto digo eu», dizia ele, «digo eu que lido com dinheiro todos os dias, aqui, atrás do balcão ou às vezes sentado na mesa do chop suey de vaca, pagando a conta por favor é visa ao lado da menina das pernas depiladas, brancas, perpétuas, como a neve do Himalaia que nunca chegarei a tocar».