Natal subterrâneo
Nada havia no homem que chamasse a atenção, salvo os dois lugares por ocupar a seu lado, no banco lateral. Nem a fragrância, nem a roupa de marca, nem a barba bem escanhoada mantinham ao largo os passageiros, apesar da carruagem repleta. Mas um vislumbre bastava para ver os seus olhos fitos no chão, e outro chegava para sentir o seu silencioso desespero. Como uma onda de choque, uma ameaça de contaminação, um aviso de perigoso contágio. Ao abrirem-se as portas, a mole de homens e mulheres olhou-o com esperança de que se levantasse e saísse. Ele assim fez. Mas os lugares ainda permaneceram vazios, até à paragem seguinte. Anjos.
Pensei que a conclusão revelasse uma paragem de outrora: «Socorro».
ah! ah! Tentamos fugir do óbvio, por vezes sem muito sucesso...