27.12.05

Samuel Beckett: Possível «Intervalo»


Entre a pulsão de saliva o desejo de fim lembro-me parte do início se não me divirto a inventá-lo porque houve qualquer coisa antes mas não recordo senão depois distintamente isto é houve qualquer coisa antes mas não tenho a certeza


momentos sobre momentos calculadamente coreografados agora um espaço estreito na memória ou antes fosse intervalo é espera


Estamos sentados nas palavras imóveis nós e elas se pensarmos talvez acabe se falarmos e por isso mais do que as palavras os silêncios digo-te o pouco que me resta mas quero lembrar-me primeiro de qualquer coisa


o coágulo nu a voz feminina e leve o braço debaixo da cabeça cabelos pretos sinais de doença tu e a tua segunda boca eu e a minha única fala ambos calados já na espera de nada ou isso é agora?


Alice in Wonderland dans le Pays des Rèves sempre olhos de parede talvez tenhas sido corpo de luz como se diz não é em ti que procuro a alegria fecho-te cerco-te nem sequer consigo lembrar-me de qualquer coisa que deve ter havido antes.


Mentiras. Verdades apenas horizontais trabalho de mãos e boca e todos os poros parado sobre ti a senti-lo dentro encher-te só esvaziar-me sem acreditar no que digo ouço penso


somos o outro para cada um o sangue e o branco deste lugar com ruídos de mastigação resíduos psiquiátricos todos os vícios juntos cigarros e citações


Se queria lembrar-me de qualquer coisa desisto escondem-se os nomes por detrás de nós já tantas vezes somados caricaturados tantas vezes chamados personagens.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Acabei de me esquecer daquilo que me devia lembrar. Ou será que nem cheguei a pensar em nada? Quem eu sou? Para onde vou? Ó vida cruel que me deixas nesta agonia de nem perceber o que estou a escrever!!

10:17 da manhã  

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